quinta-feira, 7 de agosto de 2008

sinais

O sinal fechou.

O menino, quase homem, de pés descalços, que aparenta ter em torno de dezessete anos, começa a correr. Amparado em seu braço esquerdo, carrega onze pequenos sacos de plástico transparentes, que embalam dez balas de sabores sortidos. O tempo até que o sinal passe de vermelho para verde lhe proporciona abordar no máximo onze carros, na tentativa de vender aquelas balas.

Quando eu, que nasci em uma família que me proporcionou educação de qualidade e estrutura familiar que toda criança/adolescente deve ter, tinha a idade deste rapaz, vivia um dilema: morar um tempo fora do Brasil ou continuar por aqui e ingressar em uma faculdade.

Fisicamente nada distante de mim, encontro, diariamente, situações que me mostram realidades proporcionalmente distantes. Aí vem a vontade de ajudar, de fazer alguma coisa para mudar aquela situação, mas a vontade não consegue se transformar em atitude. O tempo parece, cada vez mais, ser cada vez menor. Sem que possa perceber, o egoísmo vai me ganhando a cada dia e vou me aproximando de outros milhares de acomodados, que tiveram o privilégio das oportunidades da vida, em um mundo tão desigual.

Questiono-me: porque eu nasci em um berço que me proporcionou estar agora, a frente deste computador, graduado, com metas e objetivos progressistas da vida e não deu o mesmo para a maioria dos indivíduos que estão a minha volta, em cada esquina? Porque sempre que eu saio de casa, tem alguém que, na grande maioria das vezes, pede pra tomar conta do meu carro quando vou estacionar? Porque não é este indivíduo que está estacionando e eu pedindo o trocado?

Justamente por não ter claras respostas para perguntas como essas que, cada vez mais, sinto-me na obrigação de fazer alguma coisa pra melhorar a vida dessas pessoas. Esmola é instantâneo demais e não resolve nada. Educação sim pode ajudar bastante.

A pergunta final que fica é: quando vou dividir a educação que a vida me proporcionou com o menino do sinal?

E com tanta bala perdida por aí, ninguém abre o vidro do carro para aquele menino.