terça-feira, 20 de janeiro de 2009

o mar é a cela de marcella

O que todos querem ver nada tem a ver com Marcella. Nem mesmo ela sabe. Conhece bem sobre os outros e opta pelos caminhos já escolhidos por eles.

É como se estivesse no mar: sua vida margeada pelas ondas e, certamente, é muito mais cômodo ficar por ali.

Não consegue avançar rumo a outros continentes através do vasto oceano, capaz de oferecer aprendizados únicos, e também não volta para a areia, a fim de revisitar o que lhe veio antes para, quem sabe, entender que o melhor caminho para si é por terra.

Fica na beira. Pega algumas ondas, pula outras e não sai de lá.
É seguro: mesmo com mar chegando até os ombros, ela consegue alcançar o fundo com seus pés e mantém a cabeça pra fora d’água, para que nunca lhe falte o ar.

Espera sempre que o mar lhe traga respostas, caminhos e pessoas que dêem fim aos seus anseios e angústias.

Espera sempre.

E as noites encaminham o frio e uma solidão vazia ao seu coração, que já está cansado desses sentimentos.

Contudo, vai dormir pensando apenas nas ondas do dia seguinte.
Quais pular? Quais pegar?

Nunca pensa em avançar.
Jamais pensou em voltar.
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Pinta os olhos e pensa nos sonhos
de ser desejada por quem
se rende além do mesmo em vão.
Visita o inferno e diz que é feliz.

Disputa o espaço do espelho,
esquece a primavera
sabe o que falta dentro de si
mas não consegue achar.

Muda esse jeito,
molda tua glória
e veja a nova “musa” que vem de lá.

Muda esse jeito
e molda a história
pra ver a nova moda que vem
te transformar.


Não percebe o tempo passar
sem deixar a idade chegar
na estupidez que faz infeliz,
diz que foi ao céu mas não sabe rezar

Disputa o espaço do espelho,
esquece a primavera
sabe o que falta dentro de si
mas não consegue achar.

Muda esse jeito,
molda tua glória
e veja a nova “musa” que vem de lá.

Muda esse jeito
e molda a história
pra ver a nova moda que vem
te transformar...

...nessa “musa”
que todos querem ver
mas que nada tem a ver com você.

Vou te cantar só pra dizer
que o teu melhor não vai aparecer
em meio a tanta dor.


Perdida no quarto escuro. Mariana Meloni.
Modelo: Fernanda Raquel. 1998.

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

faixa de gaze

Neste último sábado, em alguma hora da madrugada, estou em frente à TV, mudando de canal na busca por algo interessante durante a minha “cerimônia de sono”, antes de ir pra cama.

Parei em um canal de notícias que comentava o dia de combates na Faixa de Gaza. Aquela história: imagens lamentáveis, narradas pela dinâmica de bombardeios e imbecilidades que envolvem uma guerra. Essa, em particular, é tão bizarra que, se pegarmos uma manchete de jornal de 10 anos atrás sobre o assunto e trouxermos para os dias de hoje, não seria surpresa/novidade para ninguém.

Voltando a TV: o noticiário dizia que, naquele dia, houve uma parada de 3h para o atendimento humanitário. As autoridades cessam fogo diariamente por um período para que a população de Gaza possa receber auxílio médico e suprimentos. Resumo: os caras bombardeiam-se como loucos, uns aos outros, matam uma penca de gente e, como trata-se de uma galera super “gente fina”, dão uma parada para que aqueles que tomaram chumbo na cabeça estejam prontos para mais fogo, para quando o ataque é reiniciado. Como diz um camarada: "Esse mundo está todo fodido, cara".

Imagine um diálogo de soldados do exército israelense:

- General: Vai, solta aquele míssil ultra-power-mega destruidor! Vamos “tocar o terror” e destruir essa Faixa de Gaza toda. Com esse míssil vamos matar todos os infelizes desses palestinos radicais.
- Soldado: Mas General, falta 1 minuto para 12h, quando começa o atendimento humanitário. Não podemos soltar esse míssil ultra-power-mega destruidor agora. Vai dar merda...
- General: Verdade! Segura aí o míssil. Os coitados estão todos fudidos lá. Merecem ajuda e cuidado. Não vai ser desumano e lançar essa porra agora, heim soldado!

Isso parece brincadeira. Afinal, que guerra não quer matar?

E aquelas imagens do combate começaram a levar-me a questionamentos básicos, como: em pleno século XXI, porque ainda existe incentivo de avanço da indústria bélica? Porquê ainda são fabricados canhões, mísseis, metralhadoras e etc? Será que vai chegar o dia em que as pessoas entenderão que violência gera violênca? Será que um dia todos saberão que ódio, raiva e rancor não são respondidos com amor, carinho e cuidado?

Não sou inocente ao ponto de não enxergar as questões culturais e, principalmente econômicas/financeiras que motivam qualquer guerra. Mas todas essas perguntas estão em torno de uma maior:

Será que um dia as ações das autoridades pelo mundo serão em direção de levar paz e bem-estar aos povos, pensando primeiramente nos seres humanos?

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

movimentação para oferecer

Há uma semana resolvi revisitar os textos que escrevi por aqui até hoje. Desde agosto do ano passado, quando postei o último texto, não escrevi mais. Esses “vazios” sempre aparecem e eu já não brigo mais com eles. Se eles vieram, certamente é porque preciso dar uma parada mesmo e até porque esse espaço é destinado a uma pratica extremamente prazerosa.

De qualquer forma, o que me fez voltar por aqui foi um assunto bem parecido com esse último post aí de baixo: a necessidade de doação (independente do tipo) ao próximo.

Há 15 dias 3 pequenos acontecimentos mexeram bastante comigo:

1) Há algum tempo, em meio a imobilidade que aflige a maioria das pessoas nesse sentido de ajudar ao próximo, concluí (ou tentei me enganar) que o melhor que poderia fazer era ser um cara legal com as pessoas que estavam a minha volta. Essa conclusão foi muito conveniente pra mim, até porque já pratico bastante o conceito de “ser humano” e, esse teatrinho de consciência tranqüila, nesse sentido, acabou não durando muito por dois motivos: não precisava mudar nada no meu dia-a-dia para que essa “ajuda” acontecesse e ser bacana com quem está a minha volta é algo que eu dou para receber em troca (sem maldade, claro), já que encontro frequentemente as pessoas que estão em torno da minha rotina. Na semana passada, surgiu uma discussão sobre esse assunto e lembrei-me bastante dessa diferença: fazer alguma coisa esperando receber ou movimentar-se no sentido da ajuda para, simplesmente, oferecer alguma coisa.

2) Passei o mês de dezembro fazendo mudança e o serviço de frete que contratei chegou a mim em um dia de trânsito carioca, quando passou uma caminhonete antiga com uma lona escrita “Frete Piaba”, seguida do telefone. Resolvi ligar e fizemos a mudança das poucas coisas que eu tinha interesse em levar para a minha nova casa. Ficaram na antiga residência uma cama de casal, mesa, cadeiras, escrivaninha, pratos, talheres, copos, alguns objetos decorativos, tábua de passar e fogão. O proprietário tinha interesse em ficar com os “principais itens” (cama, mesa, cadeiras e fogão), mas achei que aquilo poderia servir a alguém. Como o “Piaba” foi um cara muito legal comigo e parecia precisar ou conhecer quem precisasse, liguei pra ele e ofereci os “principais itens” (cama, mesa, cadeiras e fogão), pensando que teria que jogar fora o resto. Cheguei cedo no apartamento e, antes que ele (e o filho de 15 anos que trabalha junto) chegasse, fui juntando em uma grande caixa o que acreditava que ele ou qualquer outro não iria querer. Carregamos a caminhonete e, ao final, “Piaba” me perguntou se poderia levar a grande caixa com o “resto”. Ao partir, me agradeceu com uma sinceridade lindíssima e disse-me que aquilo veio na hora exata e que sua esposa daria pulos de felicidade quando ele chegasse em casa.

3) No último fim de semana, assisti ao filme “O banheiro do Papa”, que conta a história real de toda uma preparação de uma cidade muito simples do Uruguai para a visita do Papa. Os moradores do lugar, na esperança de conseguir melhorar uma vida extremamente sofrida, investem o pouco que tem em comidas, bebidas e até um banheiro, entre outras coisas, pensando na quantidade de pessoas que visitaria a cidade para ver o Papa. Todos no lugar trabalham duro e o filme mostra a dificuldade no detalhe de, por exemplo, conseguir um tijolo para terminar o banheiro que seria disponibilizado para os visitantes em meio a um pagamento. Não vou contar o final, mas a batalha é duríssima na condução dos preparativos. A população só via trabalho! As pessoas só queriam trabalhar.

Essas coisas andam martelando aqui na “caixa” de uma forma muito positiva. Muitas idéias me visitam todo dia e ando conversando com amigos que querem se movimentar também.

De agosto pra cá, quando escrevi o post abaixo, alguns projetos nesse sentido chegaram a sair do papel, mas não vingaram. Eram grandes, que dependiam de um montão de coisas e principalmente gente. Eu estava sozinho e não consegui ir em frente, mas o principal motivo para não fazer acontecer foi um desequilibro de dedicação, pesando muito mais para mim, como sempre.

É uma evolução. Vamos ver se estou mais preparado para as idéias de 2009.