domingo, 30 de março de 2008

C, A e U

A história acontece em 1942.

Um estava fugindo da guerra e assim chegou ao Brasil.
O outro estava cansado do sertão nordestino e queria conhecer a "cidade grande".

Os dois se encontraram com valores e ideais completamente diferentes.
Se alguém contasse sobre o perfil dos dois, qualquer um diria ser impossível uma aproximação.
No entanto, uma afinidade vinha antes de qualquer outra diferença: a busca pela felicidade. E não era qualquer busca. Essa era uma busca consciente do que cada um precisava fazer para alcançá-la.

As diferenças eram muito mais do que respeitadas pelo outro. Eles aprendiam com elas.
Cultivaram o que mais diferente existisse no outro e beberam dessa fonte sem qualquer limite.

Para onde quer que tenham ido, levaram consigo uma experiência única.
Cada um guardou o sentimento que aqueles dias os proporcionaram e jamais vão esquecer de Cinema, Aspirinas e Urubus.

Essa é a história do alemão Johann e do nordestino Ranulpho.
Essa é uma história sobre amizade.
_______

C, A e U


eles tem vidas opostas
com a mesma resposta
entre duas apostas
com sonhos distintos
pelo mesmo caminho

um veio de longe e acha tudo diferente
o outro sofreu um tanto que não entende

que longe das bombas
tinham vida de gente
poesia de areia
e amor entre as veias
vento pra ir a qualquer lugar
que o sonho dos dois
deixasse levar

bradaram o mesmo amor
criaram um sol maior
andaram pelo calor
a caminho do mar

fizeram da diferença o melhor dos dois
e fizeram de lá o melhor lugar... sem perfeição

que longe das bombas
tinham vida de gente
poesia de areia
e amor entre as veias
vento pra ir a qualquer lugar
que o sonho dos dois
deixasse levar

um guardaria a guerra pro cinema
o outro corria para capital
a solução dos dois naquela terra
fez nascer um mundo quase ideal


quinta-feira, 13 de março de 2008

trocas

From: Arthur Belino R. Rodrigues
Sent: quinta-feira, 13 de março de 2008 11:36
To: ................................. [mailto:........@..................]
Subject: RE: Oi

É...

Tem vezes que nossa vida fica assim mesmo. Tudo fica meio confuso e acabamos por dar mais importancia por coisas que não necessáriamente nos completam.
Isso acontece em função de todos os valores e verdades que, no fundo, não são nossos. Involuntariamente eles vao aderirndo em nós.

Mas tudo isso faz parte da nossa evolução e acho que precisamos “nos fazer esse mal” para mudar o caminho e chegar perto da nossa essência.

Comigo aconteceu mais ou menos assim. Comecei a dar valor a várias coisas que estavam bem longe do que eu acredito ser realmente bom pra mim. Fiz isso sem perceber e quando parei, me vi em meio a um turbilhão de coisas que começaram, inclusive, a prejudicar a minha saúde. Acho que só quando tudo isso começa a nos prejudicar realmente que nos damos conta do mal que estamos fazendo a nós mesmos.

Enfim, mudei algumas coisas na minha vida e continuo mudando outras, buscando alcançar essa tal de essência, que depois de 26 anos parece estar longe, distante... mas aí lembro que ela está bem aqui, dentro de mim. Saber disso me conforta.

Vou aproveitar que estou escrevendo esse email para uma amiga pra desabafar! Acabei de ver umas fotos da última viagem que fiz com ela... nossa que saudade! Fico completamente perdido ao saber o que é melhor pra mim nesse sentido. Isso ainda é uma grande dúvida. É muito difícil distinguir o que é realmente o sentimento e o que é apenas emoção. Me questiono muito se sou capaz de gostar de alguém do jeito que gosto dela, apesar de, no fundo, saber que tenho é que gostar mais de mim! A partir do momento que me amar mais do que tudo e todos, estarei pronto pra amar outras pessoas. Mas estou em busca disso, sem pressa.

No mais, me mudei... estou morando bem mais perto do trabalho e isso tem significado uma grande melhora na minha qualidade de vida. Estou dividindo o apartamento com um amigo e tem sido uma nova e valiosa experiência para mim, que morava sozinho há alguns anos. Sem contar que estou pertinho da praia. Durmo ouvindo o barulho das ondas, uma paz danada. =)

É isso.

Um beijo e se cuida!


From: ................................. [mailto:........@..................]
Sent: quinta-feira, 13 de março de 2008 10:56
To: Arthur Belino R. Rodrigues
Subject: Re: Oi

Oi,

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quinta-feira, 6 de março de 2008

música e lembranças

É incrivel o poder de uma música. Uma melodia pode trazer a tona sentimentos e sensações guardadas e/ou esquecidas há tempos em nosso inconsciente.

A minha vida, especificamente, é marcada por trilhas sonoras. Cada fase tem a sua música mais representativa e basta que seu conjunto de notas comece a soar para que minha memória traga novamente a mim o que foi sentido. Certas vezes, chego a desfrutar novamente de um gosto ou de um perfume que marcou certo momento.

Por outro lado, acredito que a música possa ajudar bastante no tratamento de traumas ou situações mal resolvidas do passado que, involuntariamente, numa forma de proteção, escondemos em nossa mente e que nos trazem certos bloqueios no presente.

Há poucos anos, nossos “momentos musicais” estavam restritos aos locais onde haviam um som e, geralmente, dedicávamos um tempo para isso. Haviam os walkman’s e diskman’s, mas os aparelhos eram grandes e nunca foram unanimidade. Hoje em dia, com o “boom” dos tocadores de MP3, as pessoas fazem tudo com sua playlist tocando. Tirando-me como exemplo: é impossível pensar em fazer coisas como correr, viajar ou até mesmo cozinhar sem os fones no ouvido.

A favor dos ótimos e práticos aparelhinhos de MP3 (que podem ser até os próprios celulares), temos o acesso cada vez mais fácil ao trabalho de artistas, via internet, e a queda da qualidade da programação das rádios. “Porque sintonizar a rádio do carro se tenho um CD com meus artistas e músicas preferidas?”

Enfim... Lembro de um episódio que me marcou bastante. Em janeiro de 1991, 6 meses antes de completar 10 anos de idade, torrei a paciência do meu pai e o convenci que me levasse ao Maracanã para assistir ao Rock in Rio II. Já nessa época eu era um projeto de amante do bom e velho rock. As paredes do meu quarto eram revestidas de posters das bandas que eu mais gostava na época: Skid Row, Information Society, A-Ha e, claro, Guns n Roses.

Compramos ingresso para o dia do Guns e, uma semana antes do show, a empolgação deste que vos escreve era grande. Lá fomos eu e meu pai para uma noite de rock dos “homens da família”. Antes de sair de casa, minhã mãe (só mãe mesmo para lembrar dessas coisas), fez um crachá (isso mesmo, um crachá!) e pendurou no meu pescoço. Nele constavam meus telefones e endereços (sim, naquela época não existia celular). Claro que não fiquei com aquela “medalha” e tratei logo de colocá-la no bolso.

Lembro de ter curtido bastante o caminho até o Maraca, a multidão roqueira, o estádio lotado e os shows antes do Guns. Quando a banda mais aguardada da noite entrou no palco, o extase tomou conta de todos. Durante o show, num momento de distração, me perdi do meu pai e quando dei conta disso entrei em desespero. Tinha consciência de ser um “muleque” de 9 anos no meio de um “caldeirão” e não sabia o que fazer. A minha reação ao desespero foi chorar... chorei copiosamente ao som da minha banda favorita na época. Nesse “meio tempo”, um grupo de pessoas me achou, acalmaram-me e um deles, que era mais alto, colocou-me em seus ombros para que fossemos em busca daquele que me colocou no mundo. Três músicas do Guns rolaram como trilha da busca e encontrei meu Pai.

Bom tempo depois, uns 5 ou 6 anos após o ocorrido, escutava música enquanto estudava em casa. A programação da rádio trazia aos meus ouvidos Patience, faixa famosa do Guns. Enquanto a música tocava, fiz uma incrível viajem para o momento em que me perdi no Rock in Rio II. Acho que nunca revivi algo tão real e intensamente quanto neste momento. Quando a música terminou, saí de alfa e voltei a consciência.

Escuto música até enquanto escrevo os posts daqui. Neste momento, Badly Drawn Boy vai embalando minhas idéias.