sexta-feira, 15 de maio de 2009

valor

Engana-se sobre o trabalho quem vê nele apenas um fim em si ou mesmo um valor moral. É o que provam as férias e o salário. Trabalhar? É bem preciso. Mas quem o faria de graça? Quem não prefere o repouso, o lazer, a liberdade? O trabalho, considerado em si mesmo, não vale nada. Por isso é pago. Ele desgasta. Por isso pede repouso. Não é um valor (moral); por isso tem um valor (mercantil).

Um valor é o que vale por si só. Como o amor, a generosidade, a justiça, a liberdade... Para amar, quanto você cobra? Já não seria amor, seria prostituição. Para ser generoso, justo, livre, precisam lhe pagar? Já não seria generosidade, mas egoísmo, já não seria justiça, mas comércio, já não seria liberdade, mas servidão. Para trabalhar? Você cobra alguma coisa e, evidentemente, tem razão; aliás, quase sempre acha insuficiente o que lhe dão (sim, não é um dom, é uma troca), o que está registrado no seu contracheque, recibo ou nota de serviço. Há um mercado de trabalho, submetido, como qualquer mercado, à lei da oferta e da procura. Como o trabalho poderia ser um valor moral se está a venda?

Às vezes se trabalha gratuitamente, mas nem o voluntário escapa disso. Se trabalha é por outra coisa que o trabalho (uma causa que crê justa, amizades que faz, um divertimento que encontra...). Mesmo o escravo não escapa disso. Se trabalha é para escapar da morte: trabalha para viver, como todo mundo (e todo o mundo), e seriamos loucos se vivessemos para trabalhar.

Mas, se passamos a vida nos dedicando muito mais ao trabalho do que a qualquer outra coisa, vivemos em função de que?

É uma troca injusta e, na minha opinião, está fadada ao fracasso.

quarta-feira, 13 de maio de 2009

com_torno

olha a estrela mais distante
tentando brilhar
sem ofuscar a direção
do que pode ver.

olha em frente, pro espelho
e tenta encontrar
um mapa
desenhado em teu peito,
refletindo você...

...e todo mistério por traz
de um novo lugar,
com a virtude de enxergar
bem mais que uma chance.
anda e tenta encontrar
o sumo de uma dor
sem esquecer do amor
que ganhou pra viver.


fecha os olhos pra ser
o que você quiser
sem revés,
tribunais ou perdão.

abra os olhos e sinta
que o que fizeram com você
foi permitido por você!

um hemisfério distante
fadado a aceitar
o medo da própria voz.
(dissonante)
determinado a um preço
que só faz aumentar
a ilusão do seu coração.

deixa o futuro pra depois,
o amanhã não da pra ver
e o chão vai chegando mais perto
das estrelas...

...e de todo mistério por traz
de um novo lugar,
com a virtude de enxergar
um mar de outras chances.
anda e tenta encontrar
o sumo de uma dor
sem esquecer do amor
que ganhou pra viver,
sem esquecer do amor
que doou pra viver.