quarta-feira, 25 de junho de 2008

recordar é viver

Ontem resolvi reviver algumas músicas feitas por mim que pareciam estar meio esquecidas. Muitas delas ficaram sem ter suas notas ressoadas por anos. Uma, em especial, trouxe-me ótimas lembranças, de um sujeito fantástico que tive o privilégio de estudar, conhecer e, posteriormente, trocar na época da faculdade.

O nome da música é Suzie, composta especialmente para uma menina que também estudava conosco e chamava-se Suzane. De olhos ora verdes, ora azuis, como ele mesmo não cansava de descrever em suas belas canções (dizia que variava de acordo com a luz), Suzane tinha namorado e zelava apenas por um coleguismo de faculdade com meu amigo Enderson. Já ele, de grandiosa alma e movimentos simples, parecia importar-se apenas em estar perto dela. Óbvio que o desejo maior era doar-se e receber algo além daquela “superficial” amizade que ela estava disposta a dar.

Há muitos anos não vejo Enderson. Na época da faculdade, era um cara que, muitas vezes, passava sem que fosse notado. Magro, com aproximadamente 1,75m, sempre prezou pela simplicidade e esta era adotada inclusive na sua forma de se vestir, pentear e até falar. Em meio a tanta gente que parecia perder horas se “produzindo” apenas para assistir aula, ele tornava-se quase que um estranho naquela escola formadora de publicitários e “marketeiros”.

O dia em que o conheci, ele levava consigo um case (uma capa) de instrumento musical. Eu, que muitas vezes levava o violão para a conhecida “cantoria” que fazia com meus amigos pelas escadas da faculdade, interessei-me por aquilo e puxei o primeiro papo. Ele me disse que levava um violino e a partir daí parecia não haver fim para os nossos assuntos, que se entrelaçavam em enredos diversos. Lógico que nem esperamos a aula daquele dia acabar para iniciar a cantoria, desta vez acompanhada do belíssimo som de um violino. Foi uma noite simples e fantástica, como ele.

Passamos a conversar mais e mais vezes e, certa vez, ao nos encontrarmos na faculdade, ele disse que havia me passado um e-mail com uma música que tinha feito pensando em sua história com Suzane. Fiquei curioso e a primeira tarefa ao chegar em casa foi dirigir-me ao computador para conferir aquilo. O arquivo levava o nome da música, Suzie. Uma belíssima canção! Com seus menos de 2 minutos de duração, Enderson surpreendeu-me, pois tinha sido gravada em voz e piano. Até então, não sabia que além de violino ele também tocava piano, instrumento que considero como o mais sensível e de sonoridade mais bela. Escutei Suzie diversas vezes naquela noite e parecia faltar alguma coisa nela. A sensação era que meu amigo, talvez por não poder dividir tamanho sentimento, que mantinha guardado somente para si, não conseguira terminar a música. Eu, tomado por aquela bela e triste história, resolvi tentar terminá-la.

No dia seguinte, liguei para o, agora, meu parceiro musical, contei-lhe a novidade. Temia que ele não gostasse da minha “intromissão” em sua história e marquei de mostrar-lhe o que tinha feito, mais tarde, na faculdade. Nos encontramos, toquei a nova versão de Suzie e Enderson adorou aquilo. Agora, escrevendo toda essa história, consigo trazer perfeitamente para o presente sua imagem dizendo pra mim: “cara, parece que eu escrevi isso... você conseguiu entender exatamente o meu sentimento por ela!”. E, ao som de violão, violino e nossas vozes, “praticamos” Suzie diversas vezes naquela noite.

E acho realmente que senti exatamente o que ele quis passar com aquela canção.
Talvez por conhecê-lo.
Talvez por conhecer a história do amor platônico por Suzane.
Talvez por, como todo mundo, já ter vivido algo assim.

Em homenagem ao meu amigo Enderson Rafael, ou apenas Ende (como gostava de ser chamado), segue abaixo a letra da versão final de Suzie.
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Suzie

Como posso te esquecer
como posso deixar de te querer.
Você que é tão linda
o teu azul-olhar me faz sonhar.

Teu sorriso devagar
vai tomando o meu ser
e o meu mundo sem pensar.
E então de repente,
num repente de luz
me apaixono.

Não sei porque
nem a solidão
pode roubar
o teu lugar
do meu coração.

Não preciso me afastar
se não posso te ter
é vital pra mim te olhar.
Sentir tua presença,
deitar-me em tua voz
ter momentos a sós.

Teu sorriso vem devagar
e vai tomando o meu ser
e o meu mundo sem pensar.
E então de repente,
num repente de luz
me apaixono.

Não sei porque
nem a solidão
pode roubar
o teu lugar
do meu coração.

Um comentário:

Enderson Rafael disse...

wordless... grande abraço, Belino, que toquemos de novo um dia;)