Dia desses eu estava comentando com um amigo das antigas sobre o CD do Yusuf Islam, o novo nome adotado por Cat Stevens. A nova identidade vem da religião: ele converteu-se ao islamismo em dezembro de 1977.
Apesar de não ter religião, eu acho realmente interessante e positivamente intrigante quando vejo que alguém é bem resolvido com a sua fé. A maioria das pessoas que conheço, que não possuem religião, ficam buscando o que criticar quando novas correntes lhe são apresentadas. De uns tempos pra cá, procuro exatamente o contrário: encontrar o que é capaz de proporcionar paz e ignoro o que não entendo. Confesso que, devido a várias dúvidas e questionamentos, não sou bem resolvido com a minha fé. Isso não quer dizer que não tenho. Tenho sim, e muita, mas isso é outro papo.
Voltando a conversa sobre o novo trabalho de Yusuf Islam: é bom citar que esse meu amigo é bem mais velho do que eu. Ele viveu o tempo de grande sucesso do então Cat Stevens e, após 28 anos do último disco lançado, voltava a ter contato com um novo trabalho do artista.
Antes que me “contaminasse” com suas impressões, adiantei-me e comentei com ele que gostei demais do disco. Achei boas as letras, a pegada, o cuidado com cada arranjo, a mistura com o “som islâmico” e a paz transmitida em forma de música. Ele também me passou suas impressões: disse-me que gostou bastante do disco e que, com este trabalho, o “tal Yusuf Islam voltava a ser Cat Stevens”, numa forma de criticar o retiro mais que espiritual do ser humano Stevens (antes do artista).
Achei o tom do comentário bem maldoso e etnocêntrico. Cat Stevens viveu como músico desde a adolescência, sempre em companhia da preocupação de lançar um novo disco, sem conseguir olhar para sua própria vida. Foi então que descobriu o islã: “para mim, ter uma vida era importante e finalmente consegui. Era minha oportunidade de voltar à raça humana”. Palavras do próprio Yusuf Islam.
Mas meu amigo, na certeza ocidental dele, disse-me que Cat Stevens “ficou maluco” e estava parecendo o Osama Bin Laden. Uma citação bem sacana, totalmente embasada e centralizada na sua cultura, nessa nossa cultura. Supreso com o discurso preferi deixar uma pergunta comigo: será que se ele tivesse nascido em uma região de maioria islâmica, a opção de Cat Stevens seria assim tão “maluca”? Neste caso, certamente, “maluca” seria a avaliação da sua fase antes do islã. Aí nasce e vive o radicalismo e a falta de compreensão.
Temos essa mania de julgar as pessoas sem viver suas vidas, sem conhecer seus “porquês”. Quando se trata de um artista, parece que a exigência dobra de tamanho. Impera a intransigência e falta kilos de sensibilidade.
Se ele mudou de nome, se deixou de gravar novos discos, se abandonou os fãs... nada disso impota. O que fez Cat Stevens foi bem bonito e grande. Mais que isso, engrandecedor. Durante esses 28 anos ele se dedicou em cuidar da família, além do amparo e educação a jovens órfãos do mundo islâmico, atingidos pelo conflito entre árabes e israelenses e pela pobreza extrema. Por mais positiva e nobre que fosse sua intenção, o novo rumo adotado por ele foi um escândalo na época. Vai entender...
Deixo aqui a minha indicação: vale a pena escutar e viajar (sem pré-conceitos) no CD entitulado “An other cup”, de Yusuf Islam (e não mais Cat Stevens). Cheio de sensibilidade, boas intenções e vibrações positivas. Cheio de coisas que faltam no mundo de hoje e nas pessoas.
"pema sem pena"
Há 8 meses
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