É incrivel o poder de uma música. Uma melodia pode trazer a tona sentimentos e sensações guardadas e/ou esquecidas há tempos em nosso inconsciente.
A minha vida, especificamente, é marcada por trilhas sonoras. Cada fase tem a sua música mais representativa e basta que seu conjunto de notas comece a soar para que minha memória traga novamente a mim o que foi sentido. Certas vezes, chego a desfrutar novamente de um gosto ou de um perfume que marcou certo momento.
Por outro lado, acredito que a música possa ajudar bastante no tratamento de traumas ou situações mal resolvidas do passado que, involuntariamente, numa forma de proteção, escondemos em nossa mente e que nos trazem certos bloqueios no presente.
Há poucos anos, nossos “momentos musicais” estavam restritos aos locais onde haviam um som e, geralmente, dedicávamos um tempo para isso. Haviam os walkman’s e diskman’s, mas os aparelhos eram grandes e nunca foram unanimidade. Hoje em dia, com o “boom” dos tocadores de MP3, as pessoas fazem tudo com sua playlist tocando. Tirando-me como exemplo: é impossível pensar em fazer coisas como correr, viajar ou até mesmo cozinhar sem os fones no ouvido.
A favor dos ótimos e práticos aparelhinhos de MP3 (que podem ser até os próprios celulares), temos o acesso cada vez mais fácil ao trabalho de artistas, via internet, e a queda da qualidade da programação das rádios. “Porque sintonizar a rádio do carro se tenho um CD com meus artistas e músicas preferidas?”
Enfim... Lembro de um episódio que me marcou bastante. Em janeiro de 1991, 6 meses antes de completar 10 anos de idade, torrei a paciência do meu pai e o convenci que me levasse ao Maracanã para assistir ao Rock in Rio II. Já nessa época eu era um projeto de amante do bom e velho rock. As paredes do meu quarto eram revestidas de posters das bandas que eu mais gostava na época: Skid Row, Information Society, A-Ha e, claro, Guns n Roses.
Compramos ingresso para o dia do Guns e, uma semana antes do show, a empolgação deste que vos escreve era grande. Lá fomos eu e meu pai para uma noite de rock dos “homens da família”. Antes de sair de casa, minhã mãe (só mãe mesmo para lembrar dessas coisas), fez um crachá (isso mesmo, um crachá!) e pendurou no meu pescoço. Nele constavam meus telefones e endereços (sim, naquela época não existia celular). Claro que não fiquei com aquela “medalha” e tratei logo de colocá-la no bolso.
Lembro de ter curtido bastante o caminho até o Maraca, a multidão roqueira, o estádio lotado e os shows antes do Guns. Quando a banda mais aguardada da noite entrou no palco, o extase tomou conta de todos. Durante o show, num momento de distração, me perdi do meu pai e quando dei conta disso entrei em desespero. Tinha consciência de ser um “muleque” de 9 anos no meio de um “caldeirão” e não sabia o que fazer. A minha reação ao desespero foi chorar... chorei copiosamente ao som da minha banda favorita na época. Nesse “meio tempo”, um grupo de pessoas me achou, acalmaram-me e um deles, que era mais alto, colocou-me em seus ombros para que fossemos em busca daquele que me colocou no mundo. Três músicas do Guns rolaram como trilha da busca e encontrei meu Pai.
Bom tempo depois, uns 5 ou 6 anos após o ocorrido, escutava música enquanto estudava em casa. A programação da rádio trazia aos meus ouvidos Patience, faixa famosa do Guns. Enquanto a música tocava, fiz uma incrível viajem para o momento em que me perdi no Rock in Rio II. Acho que nunca revivi algo tão real e intensamente quanto neste momento. Quando a música terminou, saí de alfa e voltei a consciência.
Escuto música até enquanto escrevo os posts daqui. Neste momento, Badly Drawn Boy vai embalando minhas idéias.
"pema sem pena"
Há 8 meses
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