terça-feira, 29 de setembro de 2009

maria da academia

enquanto poeiras juntam-se no chão
ela varre e sorri.
sua cabeça, longe dali
frequenta um habitual futuro
onde pode encontrar dias mais simples.

quase invisível,
já conhece sua não presença
e acostuma o coração a não atenção.
desentende a relação com o espelho
e o que tentam encontrar,
ao tanto olhar,
a própria imagem refletida.

ao caminhar, voa longe.
liga lugares distintos e,
finalmente,
quase pode abraçar os seus.

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

que beleza

(hoje um post diferente)

Há alguns meses atrás bati o carro e tive a oportunidade de passar quase 30 dias andando de ônibus ou a pé mesmo entre as minhas rotas diárias.

Nas principais paradas de ônibus que passava, tinham bancas de jornais. Durante o tempo que ficava a aguardar os ônibus, pude perceber a quantidade de revistas totalmente focadas em beleza, com força para os assuntos "perder peso" e "cabelos". Fiquei impressionado com o tamanho desse mercado e com a bitolação da população para assuntos tão, tão, tão, tão nada.

Indaguei-me sobre alguns pontos específicos:

- Será que os responsáveis pelo conteúdo tem um mínimo de responsabilidade e a real noção da imposição estética que empurram goela abaixo dos leitores? Será que levantam a possibilidade de, oferecendo sempre uma nova "fórmula mágica", estarem alimentando o sofrimento, a insegurança e a cobrança de alguém que, cada vez mais, sente-se "fora dos padrões"? Será que, entendendo a importância de um meio de comunicação para o povo, conseguem dormir em paz veiculando falsas soluções para esse (ser gordo) que é quase um crime hoje em dia (e isso nada tem a ver com saúde... é sempre cobrado como uma questão puramente estética)? Será que atores, atrizes, modelos e etc não se preocupam em ser a imagem disso tudo?

Tirei algumas fotos de capas de revistas:


1) Numa boa, olhem a cor desse chá. Isso pode ser bom pra alguma coisa? Certamente se tomar esse chá (e também não comer mais nada) vai emagrecer rapidinho...
2) Aí você toma esse chá e ainda ganha R$500! Devia ganhar muito mais pela cagada que está fazendo com o corpo.
3) "Meus 7 segredos: como deixei de ser feia e deprê e me tornei poderosa". Já reparou que tem sempre uma quantidade específica de "fórmulas mágicas"? Isso deve dar mais credibilidade a tanta babaquice junta.
4) Sem querer acabei pegando uma parte de outra revista na foto. Poderia ter saído qualquer assunto, mas acho que as estatísticas sobre manchetes explicam. "Gisele Bunchen revela seus segredos de beleza". Vai gastar um dinheiro na revista, vai passar a fazer como a Gisele e vai continuar acordando do mesmo jeito: como é realmente. Isso sim é belo.


1) "Cabelos. Cortes e penteados das famosas. É pra cortar e arrepiar". Essa última frase chega a dar calafrio, não é?
2) "Dieta da idade. -2kg por semana". Se uma pessoa de 70 kg fizer essa dieta por 36 semanas deixa de existir... vai morrer! Não pode ser bom.
2) "Controle já a pressão e emagreça!" Sem sacanagem, é ler uma chamada dessa e a pressão subir rapidamente.
4) "Transformação de leitora" (Maria será Maya). "UAU (?!). Você pode ser a próxima! Faça seu cabelo crescer mais rápido". Tem sempre alguém achando que essa tal natureza é ineficiente, ne? Daqui há uns anos teremos um botão que será só apertar pra crescer cabelo... problema é onde vai ficar o botão.


1) Essa foto é um retrato dessa babaquice toda: 7 chamadas sobre peso ou cabelo!
2) "A fruta que acaba com o inchaço!" hahahaha tá de sacanagem. Na revista da próxima semana vão descobrir que é outra fruta.
3) "Cabelos. 42 soluções para fios armados, secos, alisados e tingidos." E pra fio de telefone? Engraçado que são 42 soluções. Nem 41, nem 43. 42!
4) "Dieta. Farinha de Laranja e Maracujá. -2kg a partir de hoje." Alguém consegue emagrecer comendo farinha, maluco? Deve haver alguma mensagem subliminar com esse lance de -2kg.
5) "Perdi 23kg com a dieta da segunda-feira". Na boa, que porra é essa? De onde surge tanta gente perdendo peso assim? Nego deve pegar esses depoimentos em hospital...
6) "Virei modelo aos 50 anos". hahahahahahahaha essa merece um foooooda-se!
7) "Transforme seu cabelo em casa. 22 segredos para alisar, amaciar..." Nem 21, nem 23. 22! E toma alisamento... daqui há um tempo vai ser um bando de playmobil andando pela cidade... todo mundo igual de cabelo liso.
8) "Turbine a dieta com chá indiano. Chai, a bebida da novela. É uma delícia! Acelera a digestão, aumenta seu pique e melhora a circulação." Ahhhhhh essa é a melhor (ou pior). Nego perdeu a noção da sacanagem. Entra a novela da Índia, faz um sucesso da porra, é todo mundo querendo ser igual Maya. Porque não entrar na onda e arrumar um chazinho sem vergonha e vesti-lo como a solução do mundo? E como se não bastasse, o "Chai" (hahahaha quem deu o nome desse chá?) ainda é uma delícia!

Por essas e outras que vivo a parafrasear Caito Mainier: esse mundo ta todo fodido, cara.

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

imoral

queria tanto saber
porque seguro
em minhas mãos um bem que não é meu?

quem me dirá se lá do alto,
no céu,
o mau não seja tão escuro assim?

sei la...
sei la...

da vida tenho o mel e tenho o travo,
no lago dos meus olhos, em cometas,
nos meus beijos pagãos.
trago
no peito o coração dos bravos
boêmios, vagabundos e poetas.


em um lugar de vaidades
e dois lados
sou mais um mau, mais um pecador.
com que moral o bem se veste assim,
e encurta o horizonte?

prefiro um caminho dito imoral e tenho mais de mim,
muito mais de mim...

da vida tenho o mel e tenho o travo,
no lago dos meu olhos, em cometas,
nos meus beijos pagãos.
trago
no peito o coração dos bravos
boêmios, vagabundos e poetas...

transgredindo o não
criando um novo sim...



inspirado no livro "A alma imoral", de Nilton Bonder

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

livre

no gostar
não há de se fechar.
há, sim, de se abrir
para experimentar
novas formas de gostar.

quarta-feira, 8 de julho de 2009

equilíbrio

São muitos os impulsos humanos que tem suficiente unidade para que, na linguagem corrente, se ache um nome para eles. Palavras como ódio, amor, amizade, cólera, fidelidade, apego, desconfiança, confiança, entre outras, designam estados que indicam uma disposição para comportamentos determinados, de modo não diverso de como o fazem igualmente as expressões cunhadas pela pesquisa científica do comportamento, como agressividade, tendência para hierarquia, territorialidade, etc.

A cada uma dessas designações para estados de “alma” e/ou disposição para certas ações corresponde um sistema real de estímulos no qual, a um primeiro contato, não é necessário estabelecer a proporção do que é geneticamente determinado ou culturalmente adquirido. Podemos admitir que cada um desses impulsos é membro de um sistema que trabalha de forma ordenada e harmoniosamente e, como tal, é indispensável a vida humana.

A tentativa de se classificar ódio, amor, fidelidade, desconfiança, etc., em sentimentos “bons” ou “maus” é nonsense, quando se sabe que eles são componentes de um sistema que funciona como um todo, e é tão tola como se perguntar, por exemplo, se a tiróide é boa ou má, em função de sua importância hormonal no metabolismo do corpo humano.

A atual concepção de que podemos dividir tais noções em boas e más, de que amor, fidelidade e confiança são em si bons, e ódio, infidelidade e desconfiança são em si maus, acontece unicamente porque, geralmente, em nossa sociedade, há falta dos primeiros e excessos dos segundos. Amor demais estraga inúmeras crianças cheias de esperanças.

O equilíbrio é fundamental em tudo, e há de se questionar os estigmas que envolvem as situações, sentimentos, emoções, etc., que possuem pré-conceitos ruins. Há também de parar de se evitar o mau, já que faz toda a diferença encará-lo como complemento ao bom, e não como seu oposto.

quinta-feira, 18 de junho de 2009

teatro dos vampiros - parte 2

(continuação do post anterior...)

O mundo dos jornalistas é possuidor de conflitos, concorrências, hostilidades. Diz-se sempre, em nome do “credo liberal”, que o monopólio uniformiza e a concorrência diversifica. Nada contra a concorrência, mas, quando ela se exerce entre jornalistas ou jornais que estão sujeitos às mesmas restrições, pesquisas de opinião e anunciantes, ela homogeneiza. Da mesma maneira, nos jornais televisivos ou radiofônicos das emissoras de grande difusão, no melhor dos casos, ou no pior, só a ordem das informações muda. Ocorre também uma espécie de interleitura comprovada: para fazer o jornal televisivo do meio-dia, é preciso ter visto as manchetes do 20 horas da véspera e os jornais da manhã.

A televisão não é muito propícia a expressão do pensamento. Um dos maiores problemas levantados por este meio é a questão das relações entre o pensamento e a velocidade. Pode-se pensar com velocidade? Será que a televisão, ao dar a palavra a pensadores que supostamente pensam em velocidade acelerada, não está condenada a ter e criar apenas fast-thinkers?

Com sua urgência, a televisão produz fast-food cultural, “idéias feitas”, aceitas por todo mundo, banais, convencionais; mas também são idéias que quando as aceitamos, já estão aceitas, fazendo com que não haja problemas na recepção. Para que haja pensamento, o tempo é necessário para que se “fragmente” as idéias.

quarta-feira, 17 de junho de 2009

teatro dos vampiros - parte 1

Porquê nas condições habituais aceita-se, apesar de tudo, participar de programas de televisão? É uma pergunta muito importante e, no entanto, a maior parte dos pesquisadores, dos cientistas, dos escritores, para não falar dos jornalistas, não faz a si mesma. É necessário que haja essa “interrogação” sobre o que dizer, a quem dizer e para que o fazer. A impressão que essas pessoas passam é que, ao aceitar participar sem se preocupar em saber se poderá dizer alguma coisa, revela-se muito claramente que não se está ali para dizer alguma coisa, mas por outras razões, sobretudo para se fazer ver e ser visto. Foi assim que a televisão se tornou hoje um lugar de exibição narcísica.

Análisando a televisão em si, o acesso a esta tem como contrapartida uma formidável censura, uma perda de autonomia ligada, entre outras coisas, ao fato de que o assunto é imposto, de que as condições da comunicação são impostas e, principalmente, que a limitação do tempo impõe ao discurso tantas restrições que é pouco provável que alguma coisa possa ser dita.

Além disso, há intervenções políticas e censuras econômicas, já que muitas emissoras pertencem a grandes grupos de empresas ou até mesmo não afetariam a reputação de seus patrocinadores, e isso afeta toda a programação quanto aos jornalistas – figuras importantes nesta análise e donos de certa manipulação, até porquê também são manipulados e, muitas vezes, alimentados por suas ambições ou temerosos de um mercado de trabalho cada vez mais competitivo, não tem consciência disso.

A busca pela notícia, o princípio da seleção é encontrar o sensacional, o espetacular. A televisão convida à dramatização, no duplo sentido: põe em cena, em imagens, um acontecimento e exagera-lhe a importância, a gravidade e o caráter dramático, trágico. As palavras comuns, não se “faz cair o queixo do burguês” e do povo. As notícias de variedades são o alimento predileto da imprensa sensacionalista; o sangue e sexo, o drama e o crime sempre fizeram vender e alçam o índice de audiência. É importante citar também os “fatos-ônibus”, que não devem chocar ninguém, não envolvem disputa, não dividem, formam consenso, interessam a todo mundo mas, de certo modo, não tocam em nada de importante.

Continua...

sexta-feira, 15 de maio de 2009

valor

Engana-se sobre o trabalho quem vê nele apenas um fim em si ou mesmo um valor moral. É o que provam as férias e o salário. Trabalhar? É bem preciso. Mas quem o faria de graça? Quem não prefere o repouso, o lazer, a liberdade? O trabalho, considerado em si mesmo, não vale nada. Por isso é pago. Ele desgasta. Por isso pede repouso. Não é um valor (moral); por isso tem um valor (mercantil).

Um valor é o que vale por si só. Como o amor, a generosidade, a justiça, a liberdade... Para amar, quanto você cobra? Já não seria amor, seria prostituição. Para ser generoso, justo, livre, precisam lhe pagar? Já não seria generosidade, mas egoísmo, já não seria justiça, mas comércio, já não seria liberdade, mas servidão. Para trabalhar? Você cobra alguma coisa e, evidentemente, tem razão; aliás, quase sempre acha insuficiente o que lhe dão (sim, não é um dom, é uma troca), o que está registrado no seu contracheque, recibo ou nota de serviço. Há um mercado de trabalho, submetido, como qualquer mercado, à lei da oferta e da procura. Como o trabalho poderia ser um valor moral se está a venda?

Às vezes se trabalha gratuitamente, mas nem o voluntário escapa disso. Se trabalha é por outra coisa que o trabalho (uma causa que crê justa, amizades que faz, um divertimento que encontra...). Mesmo o escravo não escapa disso. Se trabalha é para escapar da morte: trabalha para viver, como todo mundo (e todo o mundo), e seriamos loucos se vivessemos para trabalhar.

Mas, se passamos a vida nos dedicando muito mais ao trabalho do que a qualquer outra coisa, vivemos em função de que?

É uma troca injusta e, na minha opinião, está fadada ao fracasso.

quarta-feira, 13 de maio de 2009

com_torno

olha a estrela mais distante
tentando brilhar
sem ofuscar a direção
do que pode ver.

olha em frente, pro espelho
e tenta encontrar
um mapa
desenhado em teu peito,
refletindo você...

...e todo mistério por traz
de um novo lugar,
com a virtude de enxergar
bem mais que uma chance.
anda e tenta encontrar
o sumo de uma dor
sem esquecer do amor
que ganhou pra viver.


fecha os olhos pra ser
o que você quiser
sem revés,
tribunais ou perdão.

abra os olhos e sinta
que o que fizeram com você
foi permitido por você!

um hemisfério distante
fadado a aceitar
o medo da própria voz.
(dissonante)
determinado a um preço
que só faz aumentar
a ilusão do seu coração.

deixa o futuro pra depois,
o amanhã não da pra ver
e o chão vai chegando mais perto
das estrelas...

...e de todo mistério por traz
de um novo lugar,
com a virtude de enxergar
um mar de outras chances.
anda e tenta encontrar
o sumo de uma dor
sem esquecer do amor
que ganhou pra viver,
sem esquecer do amor
que doou pra viver.

quinta-feira, 16 de abril de 2009

uma fenda no dia

Enquanto mulheres passam pela calçada da praia, fazendo pose com seus óculos escuros retrô e cabelos esvoaçantes, serventes que trabalhavam num prédio de frente descansam, após encararem suas marmitas.

Um rapaz, sem óculos escuros e com roupa de trabalho senta na calçada, de frente para o mar, que, agitado e de ressaca, acompanham o ritmo dos seus sentimentos. A claridade adentra seus olhos, fazendo lacrimejarem em reação ao incomodo. Observa as poucas pessoas que estão na areia e o movimento ao seu redor.

Olha pra baixo e o chão que apóia seus pés, torna-se o porto estático de uma viagem. Os olhos, imóveis, fitam o chão. Sua mente salta em diversos sentidos e, inconscientemente, ignorando tudo ao redor, pensa que aquele chão poderia ser de qualquer outro lugar do mundo. Fecha os olhos e se permite desfrutar dessa paz.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
Dez minutos depois a vida real trata de trazer de volta o chão coberto de areia.
Alguém lhe toca os ombros e pergunta:

"Sabe me dizer que horas são?"

quarta-feira, 15 de abril de 2009

com a mão no céu e os pés no chão

eu não estou perto e me expresso pra passar o tempo
entre as horas de exposição e espera.

sinto um vento forte e reto
que não se curva aos meus movimentos.
tenho que enfrentá-lo
e enquanto tento moldar o espaço
sinto que também sou moldado,
em diversas direções,
entre o up and down.
____

intenso, sem a intensão de sê-lo,
pago o preço por não acreditar no amanhã,
por maior que seja a vontade tê-lo como sonho.

entre vários sensos,
(meus e de outros)
dobro esquinas e diversos caminhos aparecem.
é incrível como se opõem.

o exercício de avaliá-los,
dos mais simples aos mais complexos,
levantam pensamentos, desejos, contra desejos,
sonhos, repulsas e verdades que misturam-se
entre o melhor, o sonho e o necessário.

em meio a isso tudo, o tempo é amigo e inimigo,
e, de alguma forma,
explica o universo de opostos que compõem a vida.
a sensação de mobilidade fica nula
deixando conselhos,
aos que realmente merecem palavras tão valiosas.

é um vai-e-vem
de encontros e desencontros.
____

e isso passa longe de problemas ou
relacionamentos específicos.
também não é um julgamento
ou uma ideologia.

são ações e variações por algo abstrato, anterior a tudo, e maior.
___

e só mesmo o amor,
que sintetiza,
nos seus mais diversos, difusos e distintos sentidos,
a existência, o prazer e o privilégio
de tanta confusão (no melhor dos sentidos)
para uma vida tão bonita.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

a vida é um presente e o presente é hoje

Para discussão:

Eu acho muito doido quando as pessoas definem as decisões do presente com base apenas (ou em sua maior parcela) nos objetivos futuros. Não acho doidas as pessoas que margeiam suas vidas assim, muito pelo contrário, eu respeito. Doido sou eu que fico pensando nessas coisas. =P

Só não consigo acreditar, com força, num amanhã que ainda nem existe.

Diariamente, percebo e vejo as pessoas encarando suas vidas certas da existência do amanhã. Deitam suas cabeças nos travesseiros, todas as noites, pensando nos objetivos para daqui há semanas, meses e anos! Tenho um exemplo próximo, de um grande amigo, que poderia viver muito melhor se conseguisse balancear seu foco entre presente e futuro. Trabalha muito mas, com o que ganha, pouco se permite, no intuito de usufruir dos seus ordenados num futuro que ele está certo que vai chegar.

Acho que a nossa vida e, consequentemente, os objetivos desta são tão mutáveis (e isso acaba sendo fruto dos nossos aprendizados e evolução), que levar nossas escolhas em função de um só caminho me parece injusto demais com o nosso presente. Tudo muda, tudo passa, as várias histórias que compõe nossa existência são efêmeras e é fantástico que as coisas sejam assim. Vamos vivendo várias histórias! Se tudo fosse muito programado e corresse exatamente de acordo com o que planejamos, a vida seria previsível demais.

Claro que é sempre importante ter uma espécie de “radar”, onde seja possível entender que as decisões que são tomadas hoje certamente serão parte de um resultado futuro. Na verdade é fundamental entendermos quais serão as conseqüências dos nossos atos (e grande parte delas, na maioria das vezes, acontecem no futuro). Mas, como diz aquele velho ditado, não deixar pra amanhã o que pode ser feito hoje é ponto básico, até porque o amanhã não existe (e isso é fato, não é uma opinião).

Sejamos práticos: isso aqui é um incentivo pra você, que está brigado com seus pais/parceiro(a)/amigo(a)/namorado(a)/porteiro/chefe ou qualquer outro. Também pra você que está com aquela grana guardada há um tempão, pensando na educação dos seus filhos (que ainda nem existem e não passam de um sonho para daqui há 5 anos), tendo que conviver com uma geladeira que a porta está quase caindo e que não para de pingar água pela cozinha. Sem querer ser trágico (mas já sendo) e levando a coisa para o extremo, imaginem se um de vocês fosse a próxima vitima de uma bala perdida? É como diz aquela canção do Paulinho Moska: “o que você faria se só te restasse um dia?”

Quando eu tinha uns 10, 11 anos, ouvi uma frase que, mesmo menino, me fez refletir demais e foi fundamental na minha formação: "é preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã".

E passei a levar tudo assim, nessa "intensidade" gostosa de viver.
E não consigo mais fazer de outro jeito.
=)

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

pluri

Se todos passassem a gostar somente de amarelo, outras cores como azul, verde, preto, branco, rosa e vermelho entrariam em um triste processo de extinção. Em meio a este processo, apagar-se-iam todas as virtudes, belezas, contrastes e equilíbrios que essas cores trazem para a vida.

Ser diferente é ter elementos naturalmente únicos, que juntam-se para criar o que é realmente novo e vale a pena.

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

o mar é a cela de marcella

O que todos querem ver nada tem a ver com Marcella. Nem mesmo ela sabe. Conhece bem sobre os outros e opta pelos caminhos já escolhidos por eles.

É como se estivesse no mar: sua vida margeada pelas ondas e, certamente, é muito mais cômodo ficar por ali.

Não consegue avançar rumo a outros continentes através do vasto oceano, capaz de oferecer aprendizados únicos, e também não volta para a areia, a fim de revisitar o que lhe veio antes para, quem sabe, entender que o melhor caminho para si é por terra.

Fica na beira. Pega algumas ondas, pula outras e não sai de lá.
É seguro: mesmo com mar chegando até os ombros, ela consegue alcançar o fundo com seus pés e mantém a cabeça pra fora d’água, para que nunca lhe falte o ar.

Espera sempre que o mar lhe traga respostas, caminhos e pessoas que dêem fim aos seus anseios e angústias.

Espera sempre.

E as noites encaminham o frio e uma solidão vazia ao seu coração, que já está cansado desses sentimentos.

Contudo, vai dormir pensando apenas nas ondas do dia seguinte.
Quais pular? Quais pegar?

Nunca pensa em avançar.
Jamais pensou em voltar.
_______________________

Pinta os olhos e pensa nos sonhos
de ser desejada por quem
se rende além do mesmo em vão.
Visita o inferno e diz que é feliz.

Disputa o espaço do espelho,
esquece a primavera
sabe o que falta dentro de si
mas não consegue achar.

Muda esse jeito,
molda tua glória
e veja a nova “musa” que vem de lá.

Muda esse jeito
e molda a história
pra ver a nova moda que vem
te transformar.


Não percebe o tempo passar
sem deixar a idade chegar
na estupidez que faz infeliz,
diz que foi ao céu mas não sabe rezar

Disputa o espaço do espelho,
esquece a primavera
sabe o que falta dentro de si
mas não consegue achar.

Muda esse jeito,
molda tua glória
e veja a nova “musa” que vem de lá.

Muda esse jeito
e molda a história
pra ver a nova moda que vem
te transformar...

...nessa “musa”
que todos querem ver
mas que nada tem a ver com você.

Vou te cantar só pra dizer
que o teu melhor não vai aparecer
em meio a tanta dor.


Perdida no quarto escuro. Mariana Meloni.
Modelo: Fernanda Raquel. 1998.

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

faixa de gaze

Neste último sábado, em alguma hora da madrugada, estou em frente à TV, mudando de canal na busca por algo interessante durante a minha “cerimônia de sono”, antes de ir pra cama.

Parei em um canal de notícias que comentava o dia de combates na Faixa de Gaza. Aquela história: imagens lamentáveis, narradas pela dinâmica de bombardeios e imbecilidades que envolvem uma guerra. Essa, em particular, é tão bizarra que, se pegarmos uma manchete de jornal de 10 anos atrás sobre o assunto e trouxermos para os dias de hoje, não seria surpresa/novidade para ninguém.

Voltando a TV: o noticiário dizia que, naquele dia, houve uma parada de 3h para o atendimento humanitário. As autoridades cessam fogo diariamente por um período para que a população de Gaza possa receber auxílio médico e suprimentos. Resumo: os caras bombardeiam-se como loucos, uns aos outros, matam uma penca de gente e, como trata-se de uma galera super “gente fina”, dão uma parada para que aqueles que tomaram chumbo na cabeça estejam prontos para mais fogo, para quando o ataque é reiniciado. Como diz um camarada: "Esse mundo está todo fodido, cara".

Imagine um diálogo de soldados do exército israelense:

- General: Vai, solta aquele míssil ultra-power-mega destruidor! Vamos “tocar o terror” e destruir essa Faixa de Gaza toda. Com esse míssil vamos matar todos os infelizes desses palestinos radicais.
- Soldado: Mas General, falta 1 minuto para 12h, quando começa o atendimento humanitário. Não podemos soltar esse míssil ultra-power-mega destruidor agora. Vai dar merda...
- General: Verdade! Segura aí o míssil. Os coitados estão todos fudidos lá. Merecem ajuda e cuidado. Não vai ser desumano e lançar essa porra agora, heim soldado!

Isso parece brincadeira. Afinal, que guerra não quer matar?

E aquelas imagens do combate começaram a levar-me a questionamentos básicos, como: em pleno século XXI, porque ainda existe incentivo de avanço da indústria bélica? Porquê ainda são fabricados canhões, mísseis, metralhadoras e etc? Será que vai chegar o dia em que as pessoas entenderão que violência gera violênca? Será que um dia todos saberão que ódio, raiva e rancor não são respondidos com amor, carinho e cuidado?

Não sou inocente ao ponto de não enxergar as questões culturais e, principalmente econômicas/financeiras que motivam qualquer guerra. Mas todas essas perguntas estão em torno de uma maior:

Será que um dia as ações das autoridades pelo mundo serão em direção de levar paz e bem-estar aos povos, pensando primeiramente nos seres humanos?

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

movimentação para oferecer

Há uma semana resolvi revisitar os textos que escrevi por aqui até hoje. Desde agosto do ano passado, quando postei o último texto, não escrevi mais. Esses “vazios” sempre aparecem e eu já não brigo mais com eles. Se eles vieram, certamente é porque preciso dar uma parada mesmo e até porque esse espaço é destinado a uma pratica extremamente prazerosa.

De qualquer forma, o que me fez voltar por aqui foi um assunto bem parecido com esse último post aí de baixo: a necessidade de doação (independente do tipo) ao próximo.

Há 15 dias 3 pequenos acontecimentos mexeram bastante comigo:

1) Há algum tempo, em meio a imobilidade que aflige a maioria das pessoas nesse sentido de ajudar ao próximo, concluí (ou tentei me enganar) que o melhor que poderia fazer era ser um cara legal com as pessoas que estavam a minha volta. Essa conclusão foi muito conveniente pra mim, até porque já pratico bastante o conceito de “ser humano” e, esse teatrinho de consciência tranqüila, nesse sentido, acabou não durando muito por dois motivos: não precisava mudar nada no meu dia-a-dia para que essa “ajuda” acontecesse e ser bacana com quem está a minha volta é algo que eu dou para receber em troca (sem maldade, claro), já que encontro frequentemente as pessoas que estão em torno da minha rotina. Na semana passada, surgiu uma discussão sobre esse assunto e lembrei-me bastante dessa diferença: fazer alguma coisa esperando receber ou movimentar-se no sentido da ajuda para, simplesmente, oferecer alguma coisa.

2) Passei o mês de dezembro fazendo mudança e o serviço de frete que contratei chegou a mim em um dia de trânsito carioca, quando passou uma caminhonete antiga com uma lona escrita “Frete Piaba”, seguida do telefone. Resolvi ligar e fizemos a mudança das poucas coisas que eu tinha interesse em levar para a minha nova casa. Ficaram na antiga residência uma cama de casal, mesa, cadeiras, escrivaninha, pratos, talheres, copos, alguns objetos decorativos, tábua de passar e fogão. O proprietário tinha interesse em ficar com os “principais itens” (cama, mesa, cadeiras e fogão), mas achei que aquilo poderia servir a alguém. Como o “Piaba” foi um cara muito legal comigo e parecia precisar ou conhecer quem precisasse, liguei pra ele e ofereci os “principais itens” (cama, mesa, cadeiras e fogão), pensando que teria que jogar fora o resto. Cheguei cedo no apartamento e, antes que ele (e o filho de 15 anos que trabalha junto) chegasse, fui juntando em uma grande caixa o que acreditava que ele ou qualquer outro não iria querer. Carregamos a caminhonete e, ao final, “Piaba” me perguntou se poderia levar a grande caixa com o “resto”. Ao partir, me agradeceu com uma sinceridade lindíssima e disse-me que aquilo veio na hora exata e que sua esposa daria pulos de felicidade quando ele chegasse em casa.

3) No último fim de semana, assisti ao filme “O banheiro do Papa”, que conta a história real de toda uma preparação de uma cidade muito simples do Uruguai para a visita do Papa. Os moradores do lugar, na esperança de conseguir melhorar uma vida extremamente sofrida, investem o pouco que tem em comidas, bebidas e até um banheiro, entre outras coisas, pensando na quantidade de pessoas que visitaria a cidade para ver o Papa. Todos no lugar trabalham duro e o filme mostra a dificuldade no detalhe de, por exemplo, conseguir um tijolo para terminar o banheiro que seria disponibilizado para os visitantes em meio a um pagamento. Não vou contar o final, mas a batalha é duríssima na condução dos preparativos. A população só via trabalho! As pessoas só queriam trabalhar.

Essas coisas andam martelando aqui na “caixa” de uma forma muito positiva. Muitas idéias me visitam todo dia e ando conversando com amigos que querem se movimentar também.

De agosto pra cá, quando escrevi o post abaixo, alguns projetos nesse sentido chegaram a sair do papel, mas não vingaram. Eram grandes, que dependiam de um montão de coisas e principalmente gente. Eu estava sozinho e não consegui ir em frente, mas o principal motivo para não fazer acontecer foi um desequilibro de dedicação, pesando muito mais para mim, como sempre.

É uma evolução. Vamos ver se estou mais preparado para as idéias de 2009.