Aquele Cabo de Rosa sempre esperou florecer. Sentia-se muito sozinho e chegava a invejar outros cabos de rosa, que esbanjavam saúde e felicidade ao lado de belas flores. Certas vezes, apaixonava-se pelos botões de outros, mas sabia que aquelas rosas já tinham seus pares. Restava a ele contemplar e sonhar.
Anos depois, em uma doce primaveira, o Cabo de Rosa sentia-se estranhamente feliz. Percebia que algo bom estava por vir em sua solitária vida. Poucos meses depois, sua intuição confirmava-se e nasceu seu primeiro amor: uma Linda Rosa. Para ele, aquela tornou-se a mais bela das flores de toda roseira, de todo jardim. Agora o Cabo não sentia mais a solidão de outrora e compartilhava noites e dias com sua amada.
Tudo na vida daquele Cabo melhorou e ele fazia de tudo para dar uma vida perfeita para sua Linda Rosa. A irrigação de água e nutrientes acontecia maravilhosamente bem neste momento e a flor esbanjava beleza nas curvas de suas pétalas, de tons mesclados entre azul e amarelo. A felicidade emanava para toda roseira...
Certo dia de inverno, o Cabo de Rosa sentiu uma presença diferente naquele jardim. Alguns minutos depois, pode perceber a presença de algumas pessoas, talvez 5 ou 6. Isso sempre acontecia no inverno e ele, até então, não entendia o motivo. Neste momento, sua memória trouxe a lembrança dos dias após aquela “visita”, em anos anteriores. Sempre que um grupo de pessoas passava, a roseira ficava mais vazia: cabos e suas rosas desapareciam. Em alguns casos, apenas as rosas eram retiradas e os cabos que ficavam viviam tempos de grande sofrimento.
Aquele Cabo de Rosa temeu o que estava por vir. Pode sentir a aproximação das pessoas e agarrou-se a sua Linda Rosa. Sabia que ela era especial, com uma beleza diferente e não queria perdê-la. Desejou a morte junto a ela, se tivessem que arrancar sua musa. O medo se fez verdade e uma daquelas pessoas tirou-lhe a tão querida flor. Ele queria pedir a morte, mas ninguém podia escutar ou entender seus sentimentos, apenas os poucos cabos restantes, que estavam ao seu lado.
A raiva que sentia era tão grande que o corpo do Cabo de Rosa mudou. Espinhos começaram a crescer: eram fortes, pontudos, como se aquele Cabo de Rosa quisesse realmente machucar alguém.
Veio a primaveira e com ela mais um presente: uma Nova Rosa, um novo amor. E agora o Cabo de Rosa estava mais “forte” e poderia defendê-la contra qualquer mal. Mas seu anseio em proteger aquela flor era tão grande e a necessidade de prendê-la a ele era tão forte que seus espinhos tomaram forma e tamanho tais a ponto de machucá-la. Dia após dia aquela Nova Rosa sentia dor e não pode aguentar viver daquele jeito.
Agora, resta a este Cabo de Rosa esperar uma nova doce primavera para tentar fazer diferente.
Certamente ele irá aprender, mesmo que para isso precise de muitas outras estações.
"pema sem pena"
Há um mês
3 comentários:
como eu entendo o sentimento do cabo....
Nossa, perfeito o que tu escreveu, e sei bem como esse cabo se sentiu ao deixar os espinhos crescerem a fim de proteger a rosa.
Abraços.
real, bem real.
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