quinta-feira, 3 de abril de 2008

No fundo, João sabe o que quer

Há 2 anos João completava seu 9º ano de vida. Ele sempre foi um menino simples, que tinha muito à sua disposição mas usava pouco disso para sorrir sinceramente.

Perto da data de seu aniversário, João sonhava com uma mesa de botão daquelas grandes, que simulavam um campo de futebol. A mesa que ele tinha já estava pequena (ganhou no seu 5º aniversário). Quando não estava disputando uma partida com um dos poucos amigos que ainda se interessavam pela “relíquia”, com seu pai ou seu avô, fazia campeonatos sozinho: distribuía os botões como times e armava uma grande competição. Eram horas e horas de pura diversão.

Uma semana antes do “grande dia”, João chegou em sua escola e percebeu que havia uma “febre” entre seus amigos. No último fim de semana havia acontecido o lançamento de um novo mini game, o Eztra. O aparelhinho era uma versão portátil do que havia de melhor nesse tipo de tecnologia. A criançada estava eufórica no recreio da escola. A badalação aos que empunhavam seus Eztra’s era enorme! Sem entender e perceber muito bem, João passou a querer aquilo também.

Sem ao menos ter testado uma vez, sem ao menos ter tido que fosse um minuto de diversão com o fantástico Eztra, João aderiu a onda de entusiasmo. Chegou em casa e foi correndo falar com seus pais sobre a novidade. Em cima dos comentários que escutou naquele dia, falou sobre quão única era a experiência de ter um Eztra. Narrou o frisson causado entre os amiguinhos e pediu para os pais um Eztra de aniversário. João foi dormir e seus pais estranharam aquilo. Em quase 9 anos, ele, que não era de pedir presente (gostava e estava acostumado as surpresas dos pais), parecia querer aquilo mais que tudo. Tiveram que criar um “plano B”, pois já tinham comprado uma nova mesa de botão. Lá foram eles atrás da novidade. O pai de João, que conhecia muito bem seu filho, foi o que mais estranhou. Após tantas e tantas partidas sob o facínio de sua prole, resolveu guardar a nova mesa de botão para uma outra oportunidade, talvez o dia das crianças.

Aquela semana foi intensa para o menino. Todos aqueles dias que antecederam seu aniversário sob a ansiedade de ganhar o Eztra fram estranhos pra ele. Algumas novas emoções foram geradas e ele, naturalmente, não soube administrar isso tudo muito bem. Mesmo sabendo que em poucos dias ganharia o agora tão desejado aparelho, aquilo não traduzia-se exatamente em felicidade para ele.

Na noite anterior ao seu aniversário João foi dormir na expectativa do dia seguinte. Sonhou com um grande campeonato de botão em uma mesa profissional. Ele ganhava todo mundo e era o grande campeão do torneio! Ao acordar naquela manhã de sábado, pode perceber que algo estava em sua cama: era uma caixa do Eztra! Meio sonolento, João abriu a caixa, colocou o primeiro jogo e não mais do que 10 minutos foram suficientes para que o interesse pelo aparelho reduzisse. Ele tentou outros jogos mas a magia em torno do Eztra começava a esvair-se. João deixou o aparelho de lado e foi tomar café. Recebeu abraços e beijos calorosos de seus pais, que terminavam de preparar a casa para sua festinha, que aconteceria mais tarde.

Naquela tarde, João tentou divertir-se algumas vezes mais com seu novo brinquedo. Sem sucesso, colocou o Eztra em cima da estante da sala e foi jogar botão em sua velha mesa. Mais tarde, aprontou-se para receber sua família e amigos. Apesar de não ter dado-se muito bem com seu presente, estava muito feliz com o aniversário!

No vai e vem de pessoas na casa, seu tio, involuntariamente, esbarrou no Eztra que estava na estante da sala e o mini game espatifou-se no chão. O barulho e a música não permitiram que João percebesse. Seu pai pegou o brinquedo e percebeu que a queda comprometeu seu funcionamento: a tela tinha quebrado. No momento que o pai de João comentava o decreto do aparelho com seu irmão (o tio de João), o menino, que passava por eles sem que percebessem, escutou a conversa. Minutos depois chamou seu pai e disse-lhe que não brigasse com seu tio por aquilo, que a festa dele com a presença de todos ali era o mais importante. Seu pai concordou.

Nesse momento o pai teve uma idéia: foi até a garagem de casa, onde estava “escondida” a nova mesa de botão, chamou os principais “adversários” do menino no botão (além dele, o tio e o avô) e armou, secretamente, uma pequena arena no segundo andar da casa. A festa rolava solta quando o pai interrompeu a música, pedindo silêncio de todos e, como um narrador profissional, disse: “subam aqui e sejam bem-vindos ao 1º torneio de botão no novo estádio do João. Os 3 desafiadores já estão a espera!”. João não entendia bem o que estava acontecendo, mas, esperto como era e pelo discurso do pai, já imaginava. Todos da festa foram correndo para o “local do torneio”. Após subir as escadas, os olhos do menino brilharam de felicidade. Lá encontrou a tão sonhada mesa, novinha, a sua espera. O time do avô já estava organizado e pronto, e então ele foi correndo arrumar sua equipe. A torcida se colocou a postos e ansiava pelo início do torneio. Palhetas em punho e bola rolando... foi um dia inesquecível.

Não pelo aniversário, não por ter sido campeão do “torneio”, menos ainda pela nova mesa de botão... João estava completo. Feliz ele sempre foi e continua sendo.
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Vivemos muitas surpresas em nossas vidas. Muitas vezes, o que nos surpreende não necessáriamente são coisas boas. Se um dia, numa dessas surpresas, João perder toda essa paz e alegria que o rodeia, precisará ser forte.

E essa força ele tem!

Um comentário:

Anônimo disse...

paz e alegria... =)