O mercado como um todo vive uma ideologia muito louca: a “ideologia do mais”.
Todas as empresas possuem planejamentos anuais que seguem as métricas das metas de participação de mercado e faturamento. Então, entra ano, sai ano, enquanto aquelas metas não forem alcançadas, vão existir executivos cobrando esses resultados. Na grande maioria das empresas e aí que vive o lado “feio” e “sujo” da coisa.
Antes de qualquer coisa, vale dizer que não sou contra o sistema capitalista. Sou contra sim o sistema capitalista, de velocidade e, cada vez mais, falta de qualidade, em que vivemos há alguns anos.
Não vejo problema nenhum em uma empresa criar um produto ou serviço e oferecê-lo a sociedade, principalmente se isso pode fazer as pessoas viverem melhor ou até provocar uma alegria instantânea. Não há problema nenhum em alegrar-se pela comprar de um carro novo, por exemplo. Os conceitos precisam ser revistos quando momentos como esse passam a ser metas na nossa vida, quando o nosso sonho passa a ser “ter o carro X” (tem um pouco disso no texto “sentiment o meu”, aqui no blog). Mais complicado ainda é entender porque esse tipo de “sonho material” passa a margear a vida das pessoas.
Vamos voltar ao início do texto usando números de forma ilustrativa. A empresa X começa suas atividades no Brasil para venda do carro X. Um carro de qualidade, confortável e que possui um objetivo, um sentido: locomover. O objetivo da empresa é, em um ano, vender 100 unidades desse carro por mês. Assim, a empresa consegue manter-se financeiramente saudável e consegue alcançar 10% do mercado de automóveis no país. Beleza: bom produto e metas estabelecidas. Chegou o momento de vender.
Para alcançar as metas que foram estabelecidas, a empresa precisa comunicar o lançamento do carro X e suas características (motor, conforto, design, performance, etc). Até então, propagandas em diversos meios oferecendo tudo que o carro X tem. No primeiro ano, a média de vendas do carro X é de 120 unidades por mês, ou seja, 20 unidades além da meta que foi estabelecida. Um sucesso! A empresa fecha o ano no azul e é hora de programar o ano que vem: melhorias para o carro X, talvez uma nova versão. “Precisamos vender mais... precisamos crescer”. Olha a “ideologia do mais aí". E vem a meta para o ano seguinte: 300 unidades do novo carro X, XHT, 3.9, turbo, HYZ4 Max (sempre um nome que não entendemos) por mês. Para alcançar essa meta, a empresa precisa ir além da propagandinha do ano passado. “Precisamos criar valor pro carro”. Mas peraí! O carro já tem o seu valor: custa 30.000 Reais, certo?. “Não, imbecil, precisamos mostrar pras pessoas que só os bons, os malandros, espertos, bonitos, sarados inteligentes e fodas podem ter o novo carro X, XHT, 3.9, turbo, HYZ4 Max. Além disso, esse ano o carro vai custar 40.000 Reais”.
E então vem aquela porrada de comunicação nas idéias dizendo resumidamente que se você não tem o carro X, XHT, 3.9, turbo, HYZ4 Max, você é um merda. Como todo mundo quer ser bom, malandro, esperto, bonito, sarado, inteligente e foda, tudo isso acaba afetando com os objetivos de cada um. A “ideologia do mais” faz com que as empresas percam um pouco (ou muito) do bom senso na intenção de alcançar metas cada vez maiores. Pode-se estar indo tudo bem, mas é pensar pequeno demais (a tal da “falta de ambição”) querer administrar um certo patamar. Não importa que valores sem valor e modelos sem sentido sejam criados para se conseguir mais. Na verdade, quando se tem o poder de compra de qualquer tipo de mídia possível e imaginável, tudo passa a ter bastante sentido. Basta que seja veiculado na TV o artista da vez dirigindo o tão sonhado carro X, XHT, 3.9, turbo, HYZ4 Max.
Dessa forma, cada dia mais, nos tiram humanidade para nos transformarem apenas em consumidores. Alienados. Reféns das empresas e dos meios de comunicação.
Taí, meios de comunicação. Um bom assunto, complementar a este, para o próximo post.
No som – “sentiment o meu” - Libertu
"pema sem pena"
Há 8 meses
2 comentários:
Caríssimo,
Estou amando os temas que têm sido escolhidos por você... Além de atuais, dão o que pensar!
Capitalismo, bem, é um sistema que estruturalmente precisa criar necessidades e desigualdades! E ele é mestre nisso, sabemos. Vende-se a imagem de que se elas não são satisfeitas em nossas vidas não estamos vivendo "de verdade".
Triste constatação: não somos considerados cidadãos de fato pelo capitalismo, vale dizer, pela sociedade, se não somos consumidores contumazes.
O individualismo, outro fenômeno moderno, veio ao encontro desses interesses, porque se eu tenho um carro XYZ, da moda, e fulano não, eu não devo me importar porque fiz por merecê-lo, pois tive de trabalhar duro para conseguir comprá-lo. Assim, como se vê, joga-se a culpa da exclusão não no sistema (excludente por natureza), mas na própria vítima dele.
O resultado disso você mesmo já disse: é desumanização crescente e alienação!
Apenas discordo de uma afirmativa. Não acho que ainda somos tão reféns dos meios de comunicação, porque com a popularização da internet, ainda nos anos 90, as fontes de informação se multiplicaram ad infinitum. Isso minou bastante os oligopólios das redes de comunicação. Infelizmente, ainda não o suficiente.
aí arthur...eu quero comprar um carro desses...versão hyrz4...rs...abço véio...Fabian
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