quinta-feira, 7 de agosto de 2008

sinais

O sinal fechou.

O menino, quase homem, de pés descalços, que aparenta ter em torno de dezessete anos, começa a correr. Amparado em seu braço esquerdo, carrega onze pequenos sacos de plástico transparentes, que embalam dez balas de sabores sortidos. O tempo até que o sinal passe de vermelho para verde lhe proporciona abordar no máximo onze carros, na tentativa de vender aquelas balas.

Quando eu, que nasci em uma família que me proporcionou educação de qualidade e estrutura familiar que toda criança/adolescente deve ter, tinha a idade deste rapaz, vivia um dilema: morar um tempo fora do Brasil ou continuar por aqui e ingressar em uma faculdade.

Fisicamente nada distante de mim, encontro, diariamente, situações que me mostram realidades proporcionalmente distantes. Aí vem a vontade de ajudar, de fazer alguma coisa para mudar aquela situação, mas a vontade não consegue se transformar em atitude. O tempo parece, cada vez mais, ser cada vez menor. Sem que possa perceber, o egoísmo vai me ganhando a cada dia e vou me aproximando de outros milhares de acomodados, que tiveram o privilégio das oportunidades da vida, em um mundo tão desigual.

Questiono-me: porque eu nasci em um berço que me proporcionou estar agora, a frente deste computador, graduado, com metas e objetivos progressistas da vida e não deu o mesmo para a maioria dos indivíduos que estão a minha volta, em cada esquina? Porque sempre que eu saio de casa, tem alguém que, na grande maioria das vezes, pede pra tomar conta do meu carro quando vou estacionar? Porque não é este indivíduo que está estacionando e eu pedindo o trocado?

Justamente por não ter claras respostas para perguntas como essas que, cada vez mais, sinto-me na obrigação de fazer alguma coisa pra melhorar a vida dessas pessoas. Esmola é instantâneo demais e não resolve nada. Educação sim pode ajudar bastante.

A pergunta final que fica é: quando vou dividir a educação que a vida me proporcionou com o menino do sinal?

E com tanta bala perdida por aí, ninguém abre o vidro do carro para aquele menino.

quarta-feira, 25 de junho de 2008

recordar é viver

Ontem resolvi reviver algumas músicas feitas por mim que pareciam estar meio esquecidas. Muitas delas ficaram sem ter suas notas ressoadas por anos. Uma, em especial, trouxe-me ótimas lembranças, de um sujeito fantástico que tive o privilégio de estudar, conhecer e, posteriormente, trocar na época da faculdade.

O nome da música é Suzie, composta especialmente para uma menina que também estudava conosco e chamava-se Suzane. De olhos ora verdes, ora azuis, como ele mesmo não cansava de descrever em suas belas canções (dizia que variava de acordo com a luz), Suzane tinha namorado e zelava apenas por um coleguismo de faculdade com meu amigo Enderson. Já ele, de grandiosa alma e movimentos simples, parecia importar-se apenas em estar perto dela. Óbvio que o desejo maior era doar-se e receber algo além daquela “superficial” amizade que ela estava disposta a dar.

Há muitos anos não vejo Enderson. Na época da faculdade, era um cara que, muitas vezes, passava sem que fosse notado. Magro, com aproximadamente 1,75m, sempre prezou pela simplicidade e esta era adotada inclusive na sua forma de se vestir, pentear e até falar. Em meio a tanta gente que parecia perder horas se “produzindo” apenas para assistir aula, ele tornava-se quase que um estranho naquela escola formadora de publicitários e “marketeiros”.

O dia em que o conheci, ele levava consigo um case (uma capa) de instrumento musical. Eu, que muitas vezes levava o violão para a conhecida “cantoria” que fazia com meus amigos pelas escadas da faculdade, interessei-me por aquilo e puxei o primeiro papo. Ele me disse que levava um violino e a partir daí parecia não haver fim para os nossos assuntos, que se entrelaçavam em enredos diversos. Lógico que nem esperamos a aula daquele dia acabar para iniciar a cantoria, desta vez acompanhada do belíssimo som de um violino. Foi uma noite simples e fantástica, como ele.

Passamos a conversar mais e mais vezes e, certa vez, ao nos encontrarmos na faculdade, ele disse que havia me passado um e-mail com uma música que tinha feito pensando em sua história com Suzane. Fiquei curioso e a primeira tarefa ao chegar em casa foi dirigir-me ao computador para conferir aquilo. O arquivo levava o nome da música, Suzie. Uma belíssima canção! Com seus menos de 2 minutos de duração, Enderson surpreendeu-me, pois tinha sido gravada em voz e piano. Até então, não sabia que além de violino ele também tocava piano, instrumento que considero como o mais sensível e de sonoridade mais bela. Escutei Suzie diversas vezes naquela noite e parecia faltar alguma coisa nela. A sensação era que meu amigo, talvez por não poder dividir tamanho sentimento, que mantinha guardado somente para si, não conseguira terminar a música. Eu, tomado por aquela bela e triste história, resolvi tentar terminá-la.

No dia seguinte, liguei para o, agora, meu parceiro musical, contei-lhe a novidade. Temia que ele não gostasse da minha “intromissão” em sua história e marquei de mostrar-lhe o que tinha feito, mais tarde, na faculdade. Nos encontramos, toquei a nova versão de Suzie e Enderson adorou aquilo. Agora, escrevendo toda essa história, consigo trazer perfeitamente para o presente sua imagem dizendo pra mim: “cara, parece que eu escrevi isso... você conseguiu entender exatamente o meu sentimento por ela!”. E, ao som de violão, violino e nossas vozes, “praticamos” Suzie diversas vezes naquela noite.

E acho realmente que senti exatamente o que ele quis passar com aquela canção.
Talvez por conhecê-lo.
Talvez por conhecer a história do amor platônico por Suzane.
Talvez por, como todo mundo, já ter vivido algo assim.

Em homenagem ao meu amigo Enderson Rafael, ou apenas Ende (como gostava de ser chamado), segue abaixo a letra da versão final de Suzie.
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Suzie

Como posso te esquecer
como posso deixar de te querer.
Você que é tão linda
o teu azul-olhar me faz sonhar.

Teu sorriso devagar
vai tomando o meu ser
e o meu mundo sem pensar.
E então de repente,
num repente de luz
me apaixono.

Não sei porque
nem a solidão
pode roubar
o teu lugar
do meu coração.

Não preciso me afastar
se não posso te ter
é vital pra mim te olhar.
Sentir tua presença,
deitar-me em tua voz
ter momentos a sós.

Teu sorriso vem devagar
e vai tomando o meu ser
e o meu mundo sem pensar.
E então de repente,
num repente de luz
me apaixono.

Não sei porque
nem a solidão
pode roubar
o teu lugar
do meu coração.

segunda-feira, 16 de junho de 2008

se as janelas falassem

Os dois viveram naquela casa por muitos e muitos anos. Antes de mudarem-se pra lá, sonhavam com a vida em um lugar como aquele, que parecia ser o catalisador de uma felicidade sublime. Buscaram esse sentimento de paz desde que ficaram juntos e estavam certos que aquela casa poderia trazer-lhes todo o sentimento sonhado.

Passaram-se muitos anos até que aquele casal conseguisse mudar-se para a bela e desejada casa. No alto de uma montanha, a casa fora privilegiadamente construída em meio a um ambiente bucólico, que tinham em sua “trilha sonora” os belos cantos de pássaros do local.

Os dois só esqueceram de olhar para o amor que existiu e os uniu, no tempo presente dos momentos que foram vividos, antes de sonhar com o futuro. Deixaram pra amar no futuro... e quando o “tal” futuro chegou, um parecia não mais conhecer o outro.

Restava então conhecer a casa. Assim, cada objeto presente nela pode conhecer os dois e seus reais sentimentos que, infelizmente, pouquíssimas vezes puderam ser vividos...

Se as janelas falassem, seria possível saber de todos os detalhes dessa vida.
__________

Se as janelas falassem

faça chuva ou faça sol
e ela estará na janela
em meio as incertezas de não mais sair de lá.

e é inseguro esse amor,
cheio de timidez
distante do que um dia possa acontecer.

a não ser
se seus olhares penetrassem numa mesma direção
transformando em verdade essa doce ilusão.

se as janelas falassem
diriam que é maior o amor
e a esperança de um dia ter o teu olhar.


se as janelas falassem
diriam que a vontade de te ter
junto a ela nessa casa é bem maior.

se as janelas falassem
diriam que é maior o amor...


faça chuva ou faça sol
e ela estará na janela
em meio as incertezas de não mais sair de lá.

se o seu olhar buscasse essa nova direção
ou se ela te contasse o que tem no coração.

se as janelas falassem
diriam que é maior o amor
e a esperança de um dia ter o teu olhar.


se as janelas falassem
diriam que a vontade de te ter
junto a ela nessa casa é bem maior.


se as janelas falassem
diriam que é maior
o seu...
o seu amor...
o seu amor...
o seu amor...


quarta-feira, 14 de maio de 2008

musical

Revirando arquivos antigos, encontrei isso daqui. Escrevi há dois anos... Um release resumido da minha vida musical. Não lembrava mais que tinha escrito isso e, quando li, achei legal dividí-lo com quem passa por aqui.

=)
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A música entrou na minha vida por meio de sensibilidade e percepções, que, para mim, sempre foram além do mundo das notas e acordes.

Quando criança, no final dos anos oitenta, veio a identificação com bandas nacionais como Legião Urbana, Paralamas do Sucesso, Capital Inicial e RPM. As internacionais ficavam por conta do A-ha, além “febre” que se instalava no Brasil, chamada Guns n’ Roses. A rapaziada da Tijuca, onde nasci e vivi até os 12 anos, trocava fitinhas K7 com gravações de rádio e sempre estava junta pra “tocar guitarra” em raquetes de tênis.

A vontade de, realmente, tocar a melodia e cantar as letras de Renato Russo e o sonho de um dia solar como o Slash, me levaram a estudar música em uma escola do bairro. Lá, fazia aulas de canto e violão e, posteriormente, me aventurei pelas teclas de um piano.

Minha família queria paz e sossego, e foi busca-los em Cabo Frio. Nos mudamos pra lá e, por um tempo, afastei-me dos instrumentos. Pude comprovar como era difícil mudar de cidade, amigos, “primeios amores” e tudo mais no início de uma adolescência que parecia estar definida. Pelo menos pra mim.

Os acordes estavam distantes das minhas mãos, mas os ouvidos foram presenteados de novas sensações. Com as amizades da nova cidade, também vieram os CD’s e pude conhecer a MPB de Milton Nascimento e Elis Regina, o Samba de Noel Rosa e o Rock, até então obscuro para mim, de bandas como Beatles, Silverchair, Metallica, Aerosmith, Bom Jovi, entre outras.

Foi a morte de uma pessoa, musicalmente, muito importante para mim que me fez tirar a poeira e trocar as cordas do violão, aparentemente, numa forma de deixar tudo aquilo que Renato Russo e a Legião Urbana fizeram ainda vivo para mim. Dessa vez, a minha relação com o violão não teria mais intermediários e, agora, revistinhas de acordes se espalhavam por toda a casa. Aos poucos fui alçando vôos em fontes diferentes e a vontade de criar trouxe-me as primeiras músicas, realmente minhas!

Os meses que passei na Europa, em 1999, trouxeram pra minha vida influências diversas, nunca antes imaginadas, e identifiquei-me, em especial, com aquela que chamo de “música popular francesa”. De volta ao Brasil, início de faculdade, pintou a vontade de tocar “de verdade”. Eu e um amigo de lá, o Paulo, mais dois outros, Vinícius e Thiago, formamos o Madrugas em 2001. Apesar de um primeiro ano fantástico, com abertura de grandes shows na Região dos Lagos e a vitória, junto a 7 outras bandas, no Rock Fest, onde a premiação foi a gravação de um show no Ballroom, nem chegamos ao segundo. Com um Ballroom lotado, o que seria uma noite inesquecível ganhou esse adjetivo por ter sido a última. Mas o show foi fantástico!

A partir de então, não imaginei que voltaria a dedicar-me a música. Continuava a tocar e cantar, mas agora em bares, com dois amigos da faculdade. Também continuava a compor, mesmo tendo a certeza que aquelas músicas não teriam um destino. Foi então que, meio sem querer, em meio a tanta coisa, no dia 02/03/2004, em um ensaio, nasceu a banda Dois de Março. Uma reunião de 5 músicos que se juntaram para fazer um show no dia 06/03/2004. Seria apenas um show, esse show...

Naquele ensaio, além da banda, nasceram também a amizade e o sonho, o que moveu a Dois de Março por 3 belíssimos anos. Desde então, foram mais de 50 apresentações, com passagens por casas como Cine Íris, Teatro Odisséia, Néctar, Big Ben Pub, Bukowsky, Saloon 79, Hideaway, Pub9, Convés, Cittá América, La Playa, Café Muzik (JF), entre outras. Também passamos por outras cidades, como Cabo Frio e Itaperuna e abrimos dois shows do Tianastácia, em Muriaé e Itanhandú, cidades de Minas Gerais.

Para mim, música soa melhor como canção. Não é determinada pelo ritmo e sim pela intensidade. Não chega aos ouvidos, atinge a alma. Um acorde causa arrepio, a letra foi escrita exatamente pra você, que está ouvindo naquele momento. Cada nota revela uma verdade, abre uma porta e liberta as idéias, deixa fluir sonhos e viagens. É uma linguagem única, feita para quem tem coração e sensibilidade, contruída de sensações e percepções da vida.

segunda-feira, 5 de maio de 2008

astros reis

Em uma galáxia muito distante da nossa, porém com muitas similaridades, seus planetas viviam em função dos dois “astros reis” daquele sistema: seus Sol e Lua. As posições, composições e situações dos planetas neste sistema nunca permitiram acontecer o fenômeno de aproximação desses astros. Para que toda a vida daqueles planetas pudessem desenvolver-se em harmonia, o Sol e a Lua deveriam continuar distantes, em papeis inversos.

No entanto, existia uma antiga lenda que dizia que, se um dia houvesse uma mudança na rotação daquela galáxia, que permitisse a aproximação do Sol e da Lua, uma energia até então desconhecida por toda a vida daquele sistema seria provada. Uma luz com boas vibrações seria lançada para os planetas e uma nova orbita seria adotada, a fim de que o Sol e a Lua passassem a encontrar-se pelo menos uma vez por dia. Assim, pelo menos uma vez por dia a vida dos planetas poderiam beber de tal luz.

A profecia era a que um dia isso viria a acontecer.

Após muito tempo em que tempestades de meteoros assolaram todos aqueles planetas e, principalmente, seus “astros reis”, num momento em que paz parecia querer retornar, foi possível perceber que a distância entre Sol e Lua estava menor. A vida nos planetas, embasada pela lendária profecia, desejou a tal luz de boas vibrações como uma oportunidade de reconstrução, de uma real renovação. Mal sabiam eles que havia algo maior entre Sol e Lua e, independentemente de qualquer consequencia deste encontro, os dois pareciam ter entendido como fazê-lo acontecer e passaram a desejar isso. Por isso também estavam mais próximos, ainda que distantes.

Mas agora eles já conhecem o caminho desta, agora, natural aproximação. Também sabem um pouco mais, um do outro.

Será que o encontro vai acontecer? Será que realmente haverá luz?
E mais: será que, após este tão aguardado encontro, Sol e Lua passarão realmente a encontrar-se diariamente ou voltarão a afastar-se?

Que aconteça o melhor, com calma, fazendo do tempo o melhor amigo... Jogando a ansiedade para outra galáxia.

E que sobrem apenas estrelas e cometas!

terça-feira, 22 de abril de 2008

ela é só dela

É difícil demais escrever sobre alguém assim tão iluminado. Sempre disseram-me sobre pessoas que distribuem energia por todos os lugares que passam e eu, siceramente, achei que conhecesse pessoas assim. Estava enganado e, sinceramente, se você acha que existe alguém assim na sua vida, conheça a pessoa abaixo antes de concluir tal pensamento.

Depois que essa criatura apareceu na minha vida, eu passei a entender o real significado de alguém que aparece para elevá-lo a um patamar anteriormente desconhecido. Hoje eu não quero tentar poetizar ou “escrever bonito”. Quero simplesmente tentar dividir com você o que é conhecer a Morena.

Já começa pelo nome. Sim, Morena é o seu nome verdadeiro! Num primeiro contato a tendência é sempre de dúvidar (Morena é o seu nome mesmo?), o que já lhe garantiu algumas cervejas em apostas ganhas após conferir a carteira de identidade. Pra dar ainda mais sintonia, ela é morena também.

Acho que a conheci num dos piores dias para se conhecer alguém. Pior dia para mim, pois é difícil imaginar esse conceito para ela. Lembro-me bem de dois momentos naquela mesa de bar: AM e DM (antes da Morena e depois da Morena). Recordo-me também do quão senti-me a vontade para falar-lhe do todo que me afligia naqueles dia e momento. Parecia que o “canal” entre nós já existia há muito tempo, só precisávamos sintonizá-lo, o que estava acontecendo. Não demorou muito para alocar meus sentimentos em outro lugar e dar espaço a um pouco de diversão, que era o que mais precisava naquele momento. Ainda sim, no meio de tudo aquilo, com poucas palavras, gestos e atitudes, fez-me enxergar caminhos diferentes e também interessantes para a minha vida, que nunca conseguimos perceber em momentos assim. Com essas “poucas coisas”, ela me ajudou a liberar, nesse dia, a “alegria de criança”, que sem perceber vinha guardando há anos.

Daí pra frente, Botafogo passou a ser parada obrigatória nos meus caminhos. A amizade cresceu, cresceu, cresceu e virou irmandade (“ae mermão”) e uma cumplicidade inédita ganhou meus dias. Posso dizer, com certeza, que os dela também. Meu all-star ganhou uma nova forma de enlaçamento do cadarço, a música no Nando Reis para Cássia Eller ganhou uma nova versão (“...Rua das Palmeiras satisfeita sorri, quando chego ali e entro pela contra-mão...”) e as cervejas de sexta-feira passaram a ter um gosto muito mais especial (“...como é doce o beijo quando vem da sua boca...” hahaha).

A Morena é feliz, não por uma situação ou acontecimento, mas porque ela sabe do seu caminho e o segue. Não precisa ser ninguém além do que ela quer ser. E tem coragem suficiente para levar esse conceito também para onde está vivendo. Ela é linda, com sorriso e risadas deliciosamente contagiantes. Louca na hora de enlouquecer, sensata na hora de pensar. É humana... acho que desrespeito nem faz parte do seu vocabulário, é uma questão de princípio básico que parece ter nascido com ela. Nunca achei que conheceria alguém intensamente forte e sensível, sentimentos estes, a pricípio, de difícil convivência. Dentro dela, parecem viver em bela harmonia.

Eu realmente acredito nesse lance de vibração. Acho que atraímos para nossas vidas pessoas, situações e energias que estão vibrando na mesma intensidade. Fico feliz demais que, acreditando nisso, constate que minha energia esteja ao menos próxima da radiante luz que nasce dela.

- Morena, vamos correr que a chuva está apertando!
- Vamos! Mas espera aí, olha o samba rolando... para! Vamos sambar!

E lá ficamos nós, sambando na chuva, no meio da rua.

Todas essas coisas fazem a saudade apertar.

Morena não quer ser perfeita.
Pra ela, sem dúvida, amar é ser feliz. Simples assim.

“Espere por mim morena, espere que eu chego já...”

terça-feira, 15 de abril de 2008

manhã de sexta

Entro no carro.
Cinto de segurança.
Sinto segurança.
Sim, tô! Esperança...
Segura a esperança!
Segurança cansa...
Esperança, também.
Confiança sim, não cansa ninguém!

quarta-feira, 9 de abril de 2008

a vida do cabo de rosas

Aquele Cabo de Rosa sempre esperou florecer. Sentia-se muito sozinho e chegava a invejar outros cabos de rosa, que esbanjavam saúde e felicidade ao lado de belas flores. Certas vezes, apaixonava-se pelos botões de outros, mas sabia que aquelas rosas já tinham seus pares. Restava a ele contemplar e sonhar.

Anos depois, em uma doce primaveira, o Cabo de Rosa sentia-se estranhamente feliz. Percebia que algo bom estava por vir em sua solitária vida. Poucos meses depois, sua intuição confirmava-se e nasceu seu primeiro amor: uma Linda Rosa. Para ele, aquela tornou-se a mais bela das flores de toda roseira, de todo jardim. Agora o Cabo não sentia mais a solidão de outrora e compartilhava noites e dias com sua amada.

Tudo na vida daquele Cabo melhorou e ele fazia de tudo para dar uma vida perfeita para sua Linda Rosa. A irrigação de água e nutrientes acontecia maravilhosamente bem neste momento e a flor esbanjava beleza nas curvas de suas pétalas, de tons mesclados entre azul e amarelo. A felicidade emanava para toda roseira...

Certo dia de inverno, o Cabo de Rosa sentiu uma presença diferente naquele jardim. Alguns minutos depois, pode perceber a presença de algumas pessoas, talvez 5 ou 6. Isso sempre acontecia no inverno e ele, até então, não entendia o motivo. Neste momento, sua memória trouxe a lembrança dos dias após aquela “visita”, em anos anteriores. Sempre que um grupo de pessoas passava, a roseira ficava mais vazia: cabos e suas rosas desapareciam. Em alguns casos, apenas as rosas eram retiradas e os cabos que ficavam viviam tempos de grande sofrimento.

Aquele Cabo de Rosa temeu o que estava por vir. Pode sentir a aproximação das pessoas e agarrou-se a sua Linda Rosa. Sabia que ela era especial, com uma beleza diferente e não queria perdê-la. Desejou a morte junto a ela, se tivessem que arrancar sua musa. O medo se fez verdade e uma daquelas pessoas tirou-lhe a tão querida flor. Ele queria pedir a morte, mas ninguém podia escutar ou entender seus sentimentos, apenas os poucos cabos restantes, que estavam ao seu lado.

A raiva que sentia era tão grande que o corpo do Cabo de Rosa mudou. Espinhos começaram a crescer: eram fortes, pontudos, como se aquele Cabo de Rosa quisesse realmente machucar alguém.

Veio a primaveira e com ela mais um presente: uma Nova Rosa, um novo amor. E agora o Cabo de Rosa estava mais “forte” e poderia defendê-la contra qualquer mal. Mas seu anseio em proteger aquela flor era tão grande e a necessidade de prendê-la a ele era tão forte que seus espinhos tomaram forma e tamanho tais a ponto de machucá-la. Dia após dia aquela Nova Rosa sentia dor e não pode aguentar viver daquele jeito.

Agora, resta a este Cabo de Rosa esperar uma nova doce primavera para tentar fazer diferente.
Certamente ele irá aprender, mesmo que para isso precise de muitas outras estações.

segunda-feira, 7 de abril de 2008

a minha receita

Eu prefiro ser melhor amigo do que melhor profissional.
Eu prefiro chorar ao sentir do que esconder o sentimento, apesar de muitas vezes fazer o contrário.
Eu prefiro gritar de felicidade e dividi-la com o mundo do que guardar todo esse bem só comigo.

Eu prefiro seguir todos os meus anseios e ser taxado de ridículo por outras pessoas do que ver que quem me rotula assim sou eu.
Eu prefiro envelhecer e viver todas as fazes possíveis de uma vida do que querer “parar” em algum momento específico, sem sequer experimentar o que vem.
Eu prefiro fazer o futuro vivendo o meu presente e reviver o passado fechando meus olhos.

Eu prefiro ser sensível e quebrar a imagem criada de “homem-machão-fortão” que certamente não faz bem a outros tantos.
Eu prefiro tentar entender do que criticar, apesar de algumas vezes, infelizmente, fazer o contrário.
E também prefiro olhar todos da mesma forma, apesar de muitas vezes não conseguir.

Eu prefiro o silêncio, apesar de satisfazer-me completamente com uma boa música.
Eu prefiro o escuro, apesar de emocionar-me com o sol.

Eu prefiro me apaixonar 1000 vezes e “quebrar a cara” em 999 delas para encontrar amor e paz verdadeiros, até porque “quebrar a cara” nunca é tão ruim assim: mostra-me um pouco mais de mim.

Eu prefiro sair de casa e fazer jus a vida que Deus me deu do que me prender ao medo.
Também prefiro achar Deus nas minhas emoções do que aceitar aqueles deuses que vendem pra mim.
Eu prefiro e preciso desfrutar e trocar com as belezas e dores desse mundo.

Eu prefiro escrever de mim do que de você...

Eu prefiro sentir-me parte do mundo do que olhar tudo com desdém e achar que tenho a solução de uma vida diversamente “insolucionável” (ainda bem!). Pra mim, não existe um caminho, nem uma solução ou até mesmo uma receita. Cada um de nós faz a sua e ninguém é alguém a ponto de dizer qual é a melhor.

Pra mim, não interessa saber qual é a melhor “receita da vida”. Importa sim ter uma feita por mim e tentar entendê-la, mesmo que ela mude muitas e muitas vezes. =)

Afinal, “cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é”.

A minha é mais ou menos assim, com muitas outras coisas mais, claro...
As vezes muda, mas é mais ou menos assim.

E a sua, hoje, qual é?

quinta-feira, 3 de abril de 2008

No fundo, João sabe o que quer

Há 2 anos João completava seu 9º ano de vida. Ele sempre foi um menino simples, que tinha muito à sua disposição mas usava pouco disso para sorrir sinceramente.

Perto da data de seu aniversário, João sonhava com uma mesa de botão daquelas grandes, que simulavam um campo de futebol. A mesa que ele tinha já estava pequena (ganhou no seu 5º aniversário). Quando não estava disputando uma partida com um dos poucos amigos que ainda se interessavam pela “relíquia”, com seu pai ou seu avô, fazia campeonatos sozinho: distribuía os botões como times e armava uma grande competição. Eram horas e horas de pura diversão.

Uma semana antes do “grande dia”, João chegou em sua escola e percebeu que havia uma “febre” entre seus amigos. No último fim de semana havia acontecido o lançamento de um novo mini game, o Eztra. O aparelhinho era uma versão portátil do que havia de melhor nesse tipo de tecnologia. A criançada estava eufórica no recreio da escola. A badalação aos que empunhavam seus Eztra’s era enorme! Sem entender e perceber muito bem, João passou a querer aquilo também.

Sem ao menos ter testado uma vez, sem ao menos ter tido que fosse um minuto de diversão com o fantástico Eztra, João aderiu a onda de entusiasmo. Chegou em casa e foi correndo falar com seus pais sobre a novidade. Em cima dos comentários que escutou naquele dia, falou sobre quão única era a experiência de ter um Eztra. Narrou o frisson causado entre os amiguinhos e pediu para os pais um Eztra de aniversário. João foi dormir e seus pais estranharam aquilo. Em quase 9 anos, ele, que não era de pedir presente (gostava e estava acostumado as surpresas dos pais), parecia querer aquilo mais que tudo. Tiveram que criar um “plano B”, pois já tinham comprado uma nova mesa de botão. Lá foram eles atrás da novidade. O pai de João, que conhecia muito bem seu filho, foi o que mais estranhou. Após tantas e tantas partidas sob o facínio de sua prole, resolveu guardar a nova mesa de botão para uma outra oportunidade, talvez o dia das crianças.

Aquela semana foi intensa para o menino. Todos aqueles dias que antecederam seu aniversário sob a ansiedade de ganhar o Eztra fram estranhos pra ele. Algumas novas emoções foram geradas e ele, naturalmente, não soube administrar isso tudo muito bem. Mesmo sabendo que em poucos dias ganharia o agora tão desejado aparelho, aquilo não traduzia-se exatamente em felicidade para ele.

Na noite anterior ao seu aniversário João foi dormir na expectativa do dia seguinte. Sonhou com um grande campeonato de botão em uma mesa profissional. Ele ganhava todo mundo e era o grande campeão do torneio! Ao acordar naquela manhã de sábado, pode perceber que algo estava em sua cama: era uma caixa do Eztra! Meio sonolento, João abriu a caixa, colocou o primeiro jogo e não mais do que 10 minutos foram suficientes para que o interesse pelo aparelho reduzisse. Ele tentou outros jogos mas a magia em torno do Eztra começava a esvair-se. João deixou o aparelho de lado e foi tomar café. Recebeu abraços e beijos calorosos de seus pais, que terminavam de preparar a casa para sua festinha, que aconteceria mais tarde.

Naquela tarde, João tentou divertir-se algumas vezes mais com seu novo brinquedo. Sem sucesso, colocou o Eztra em cima da estante da sala e foi jogar botão em sua velha mesa. Mais tarde, aprontou-se para receber sua família e amigos. Apesar de não ter dado-se muito bem com seu presente, estava muito feliz com o aniversário!

No vai e vem de pessoas na casa, seu tio, involuntariamente, esbarrou no Eztra que estava na estante da sala e o mini game espatifou-se no chão. O barulho e a música não permitiram que João percebesse. Seu pai pegou o brinquedo e percebeu que a queda comprometeu seu funcionamento: a tela tinha quebrado. No momento que o pai de João comentava o decreto do aparelho com seu irmão (o tio de João), o menino, que passava por eles sem que percebessem, escutou a conversa. Minutos depois chamou seu pai e disse-lhe que não brigasse com seu tio por aquilo, que a festa dele com a presença de todos ali era o mais importante. Seu pai concordou.

Nesse momento o pai teve uma idéia: foi até a garagem de casa, onde estava “escondida” a nova mesa de botão, chamou os principais “adversários” do menino no botão (além dele, o tio e o avô) e armou, secretamente, uma pequena arena no segundo andar da casa. A festa rolava solta quando o pai interrompeu a música, pedindo silêncio de todos e, como um narrador profissional, disse: “subam aqui e sejam bem-vindos ao 1º torneio de botão no novo estádio do João. Os 3 desafiadores já estão a espera!”. João não entendia bem o que estava acontecendo, mas, esperto como era e pelo discurso do pai, já imaginava. Todos da festa foram correndo para o “local do torneio”. Após subir as escadas, os olhos do menino brilharam de felicidade. Lá encontrou a tão sonhada mesa, novinha, a sua espera. O time do avô já estava organizado e pronto, e então ele foi correndo arrumar sua equipe. A torcida se colocou a postos e ansiava pelo início do torneio. Palhetas em punho e bola rolando... foi um dia inesquecível.

Não pelo aniversário, não por ter sido campeão do “torneio”, menos ainda pela nova mesa de botão... João estava completo. Feliz ele sempre foi e continua sendo.
______________

Vivemos muitas surpresas em nossas vidas. Muitas vezes, o que nos surpreende não necessáriamente são coisas boas. Se um dia, numa dessas surpresas, João perder toda essa paz e alegria que o rodeia, precisará ser forte.

E essa força ele tem!

domingo, 30 de março de 2008

C, A e U

A história acontece em 1942.

Um estava fugindo da guerra e assim chegou ao Brasil.
O outro estava cansado do sertão nordestino e queria conhecer a "cidade grande".

Os dois se encontraram com valores e ideais completamente diferentes.
Se alguém contasse sobre o perfil dos dois, qualquer um diria ser impossível uma aproximação.
No entanto, uma afinidade vinha antes de qualquer outra diferença: a busca pela felicidade. E não era qualquer busca. Essa era uma busca consciente do que cada um precisava fazer para alcançá-la.

As diferenças eram muito mais do que respeitadas pelo outro. Eles aprendiam com elas.
Cultivaram o que mais diferente existisse no outro e beberam dessa fonte sem qualquer limite.

Para onde quer que tenham ido, levaram consigo uma experiência única.
Cada um guardou o sentimento que aqueles dias os proporcionaram e jamais vão esquecer de Cinema, Aspirinas e Urubus.

Essa é a história do alemão Johann e do nordestino Ranulpho.
Essa é uma história sobre amizade.
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C, A e U


eles tem vidas opostas
com a mesma resposta
entre duas apostas
com sonhos distintos
pelo mesmo caminho

um veio de longe e acha tudo diferente
o outro sofreu um tanto que não entende

que longe das bombas
tinham vida de gente
poesia de areia
e amor entre as veias
vento pra ir a qualquer lugar
que o sonho dos dois
deixasse levar

bradaram o mesmo amor
criaram um sol maior
andaram pelo calor
a caminho do mar

fizeram da diferença o melhor dos dois
e fizeram de lá o melhor lugar... sem perfeição

que longe das bombas
tinham vida de gente
poesia de areia
e amor entre as veias
vento pra ir a qualquer lugar
que o sonho dos dois
deixasse levar

um guardaria a guerra pro cinema
o outro corria para capital
a solução dos dois naquela terra
fez nascer um mundo quase ideal


quinta-feira, 13 de março de 2008

trocas

From: Arthur Belino R. Rodrigues
Sent: quinta-feira, 13 de março de 2008 11:36
To: ................................. [mailto:........@..................]
Subject: RE: Oi

É...

Tem vezes que nossa vida fica assim mesmo. Tudo fica meio confuso e acabamos por dar mais importancia por coisas que não necessáriamente nos completam.
Isso acontece em função de todos os valores e verdades que, no fundo, não são nossos. Involuntariamente eles vao aderirndo em nós.

Mas tudo isso faz parte da nossa evolução e acho que precisamos “nos fazer esse mal” para mudar o caminho e chegar perto da nossa essência.

Comigo aconteceu mais ou menos assim. Comecei a dar valor a várias coisas que estavam bem longe do que eu acredito ser realmente bom pra mim. Fiz isso sem perceber e quando parei, me vi em meio a um turbilhão de coisas que começaram, inclusive, a prejudicar a minha saúde. Acho que só quando tudo isso começa a nos prejudicar realmente que nos damos conta do mal que estamos fazendo a nós mesmos.

Enfim, mudei algumas coisas na minha vida e continuo mudando outras, buscando alcançar essa tal de essência, que depois de 26 anos parece estar longe, distante... mas aí lembro que ela está bem aqui, dentro de mim. Saber disso me conforta.

Vou aproveitar que estou escrevendo esse email para uma amiga pra desabafar! Acabei de ver umas fotos da última viagem que fiz com ela... nossa que saudade! Fico completamente perdido ao saber o que é melhor pra mim nesse sentido. Isso ainda é uma grande dúvida. É muito difícil distinguir o que é realmente o sentimento e o que é apenas emoção. Me questiono muito se sou capaz de gostar de alguém do jeito que gosto dela, apesar de, no fundo, saber que tenho é que gostar mais de mim! A partir do momento que me amar mais do que tudo e todos, estarei pronto pra amar outras pessoas. Mas estou em busca disso, sem pressa.

No mais, me mudei... estou morando bem mais perto do trabalho e isso tem significado uma grande melhora na minha qualidade de vida. Estou dividindo o apartamento com um amigo e tem sido uma nova e valiosa experiência para mim, que morava sozinho há alguns anos. Sem contar que estou pertinho da praia. Durmo ouvindo o barulho das ondas, uma paz danada. =)

É isso.

Um beijo e se cuida!


From: ................................. [mailto:........@..................]
Sent: quinta-feira, 13 de março de 2008 10:56
To: Arthur Belino R. Rodrigues
Subject: Re: Oi

Oi,

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quinta-feira, 6 de março de 2008

música e lembranças

É incrivel o poder de uma música. Uma melodia pode trazer a tona sentimentos e sensações guardadas e/ou esquecidas há tempos em nosso inconsciente.

A minha vida, especificamente, é marcada por trilhas sonoras. Cada fase tem a sua música mais representativa e basta que seu conjunto de notas comece a soar para que minha memória traga novamente a mim o que foi sentido. Certas vezes, chego a desfrutar novamente de um gosto ou de um perfume que marcou certo momento.

Por outro lado, acredito que a música possa ajudar bastante no tratamento de traumas ou situações mal resolvidas do passado que, involuntariamente, numa forma de proteção, escondemos em nossa mente e que nos trazem certos bloqueios no presente.

Há poucos anos, nossos “momentos musicais” estavam restritos aos locais onde haviam um som e, geralmente, dedicávamos um tempo para isso. Haviam os walkman’s e diskman’s, mas os aparelhos eram grandes e nunca foram unanimidade. Hoje em dia, com o “boom” dos tocadores de MP3, as pessoas fazem tudo com sua playlist tocando. Tirando-me como exemplo: é impossível pensar em fazer coisas como correr, viajar ou até mesmo cozinhar sem os fones no ouvido.

A favor dos ótimos e práticos aparelhinhos de MP3 (que podem ser até os próprios celulares), temos o acesso cada vez mais fácil ao trabalho de artistas, via internet, e a queda da qualidade da programação das rádios. “Porque sintonizar a rádio do carro se tenho um CD com meus artistas e músicas preferidas?”

Enfim... Lembro de um episódio que me marcou bastante. Em janeiro de 1991, 6 meses antes de completar 10 anos de idade, torrei a paciência do meu pai e o convenci que me levasse ao Maracanã para assistir ao Rock in Rio II. Já nessa época eu era um projeto de amante do bom e velho rock. As paredes do meu quarto eram revestidas de posters das bandas que eu mais gostava na época: Skid Row, Information Society, A-Ha e, claro, Guns n Roses.

Compramos ingresso para o dia do Guns e, uma semana antes do show, a empolgação deste que vos escreve era grande. Lá fomos eu e meu pai para uma noite de rock dos “homens da família”. Antes de sair de casa, minhã mãe (só mãe mesmo para lembrar dessas coisas), fez um crachá (isso mesmo, um crachá!) e pendurou no meu pescoço. Nele constavam meus telefones e endereços (sim, naquela época não existia celular). Claro que não fiquei com aquela “medalha” e tratei logo de colocá-la no bolso.

Lembro de ter curtido bastante o caminho até o Maraca, a multidão roqueira, o estádio lotado e os shows antes do Guns. Quando a banda mais aguardada da noite entrou no palco, o extase tomou conta de todos. Durante o show, num momento de distração, me perdi do meu pai e quando dei conta disso entrei em desespero. Tinha consciência de ser um “muleque” de 9 anos no meio de um “caldeirão” e não sabia o que fazer. A minha reação ao desespero foi chorar... chorei copiosamente ao som da minha banda favorita na época. Nesse “meio tempo”, um grupo de pessoas me achou, acalmaram-me e um deles, que era mais alto, colocou-me em seus ombros para que fossemos em busca daquele que me colocou no mundo. Três músicas do Guns rolaram como trilha da busca e encontrei meu Pai.

Bom tempo depois, uns 5 ou 6 anos após o ocorrido, escutava música enquanto estudava em casa. A programação da rádio trazia aos meus ouvidos Patience, faixa famosa do Guns. Enquanto a música tocava, fiz uma incrível viajem para o momento em que me perdi no Rock in Rio II. Acho que nunca revivi algo tão real e intensamente quanto neste momento. Quando a música terminou, saí de alfa e voltei a consciência.

Escuto música até enquanto escrevo os posts daqui. Neste momento, Badly Drawn Boy vai embalando minhas idéias.

quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

A bela Isabella

Isabella não tem medo do escuro. Na verdade, o escuro até a acalma.

Esse lance de escuro me lembra todo um estigma que existe sobre cores escuras. Um exemplo prático disso: alguém é louco de passar o ano novo no Brasil de preto? Basta ver alguém um pouco desalinhado dos tradicionais branco, amarelo (claro), verde (claro), usando um azul escuro ou até mesmo preto, para ser, literalmente, um ponto fora da curva.

Isabella gosta das cores escuras. Inclusive, preto é a sua cor favorita, mas isso nada tem a ver com a calma que o estar no escuro a proporciona. Da mesma forma, as cores claras não tem qualquer ligação com o que lhe da medo.

Certa vez uma sensação a faz sentir perto do tal limite que separa a vida da morte, um tipo de sensação que oferece o real sentido da vida. As vezes, essa sensação não quer dizer que estamos perto da morte... mas o que Isabella sentiu foi exatamente isso. Em cima desse sentimento, desenrolaram-se outros vários. O tempo foi passando e Isabella não deu a devida atenção aquela sensação inicial, que facilmente poderia ser esclarecida se o sentido disso tudo fosse buscado no início. Após alguns meses, Isabella parou e percebeu-se no meio de um furacão chamado medo, que começou apenas como uma sensação, um pequeno vento.

A falta, seja ela de esclarecimento, de alguém ou “alguéns”, de coragem, de vida, de alimento da alma, de Deus, de tempo... enfim as “faltas” juntaram-se num aglomerado de emoções mal resolvidas, mal vividas e, porque não dizer, mal interpretadas.

Hoje, Isabella tem medo de coisas que jamais poderia imaginar ter. Ela nunca pensou que sua imaginação pudesse ser o seu principal “inimigo”, agindo dentro de si. No entanto, no fundo, seu real “inimigo” é a falta de um auto-conhecimento que a ajude a entender as sensações e emoções que essa vida a apresentou.

Isabella já julgou sem sentido e mentirosas coisas que hoje seu corpo respondem de forma positiva.
Isabella tem uma oportunidade única de crescer e vencer todos esses obstáculos.
Isabella é bela, e sua presença no “time” dos bons é importantíssima.
Eu tenho certeza que ela vai conseguir, e isso vai ser ótimo para todos nós.

quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

a vida é um presente no presente

Quanto tempo sem escrever...

Isso é uma coisa que me faz tão bem e eu não consigo entender porque me permiti ficar sem este prazer.

Acho que isso, essa parada, começou em função da minha nova postura no trabalho. No meio de 2007, após uma promoção, resolvi dedicar-me mais ao trabalho e adotei um posicionamento de entrega mesmo. Talvez não só pela promoção, mas também porque, apesar do ritmo acelerado, gosto do ambiente da empresa e sinto-me bem na área que eu trabalho. No fundo, achei que essa dedicação a mais era válida e seria boa pra mim.

Adotada a tal nova postura, de maior entrega, não percebi que, consequentemente, deixava de lado coisas que me fazem tão bem, engrandecedoras da alma... coisas que são partes fundamentais para que minha vida seja melhor. Dentre elas, estão: o tempo que dedico a este blog, os momentos em que toco violão, minha hora de leitura, o carinho com minha companheira, minhas conversas sem marcadores de tempo com meus amigos, etc. O dia tem apenas 24 horas e se você aumenta o tempo de uma coisa, sem dúvida, são reduzidos ou até eliminados os tempos de outras. E isso aconteceu comigo e quando parei, me peguei com vários limitadores.

No fundo, lá no fundo, sabia que essa nova postura estava em grande contradição com os meus valores e planos de vida, mas “mascarei” a minha ideologia e fui em frente! No início, parecia que conseguiria conciliar tudo... sempre achamos que “vai dar”, mas não foi assim. Mais uma vez, sem perceber, fui perdendo a paciência com coisas tão relaxantes, que pelo menos para mim servem como combustível da vida, pois estava sempre cansado demais. Quando chegava em casa queria mais era deitar, ver um pouco de TV e dormir. No dia seguinte, a mesma coisa...

Assim o tempo passou até ontem, quando finalmente me dei conta disso tudo. Não sei como serão os próximos dias, mêses e até anos, mas sei que vou buscar ferramentas que me façam voltar a valorizar o que realmente, lá no fundo, são coisas importantes para mim. A vida passa em um piscar de olhos e se usamos o nosso tempo em função de algo que não nos engrandeça, não vale o tempo que dedicamos a isso.

Não que as pessoas não tenham que trabalhar... definitivamente não estou querendo dizer isso. Mas o nosso trabalho não nos pode dar limite a vida. Nós é que temos que limitar o trabalho em função da nossa felicidade e paz.

Uma pessoa me disse algo ontem... simples, até clichê, mas como escrevi tudo isso, pode ser que também aplique-se ao que você, que está lendo isso agora, está vivendo. Lá vai: “sua vida é mais importante do que qualquer coisa. Não deixe que pensem ou façam escolhas por você. A direção é sua.”

Realmente, a vida é um presente. Boa demais!
Só precisamos saber fazer jus a este presente.
Agora.